domingo, 3 de outubro de 2010

O quer as eleições me ensinaram

1) O alimento favorito dos eleitores do Kobrasol é a pipoca. (Ou assim acreditam os vendedores ambulantes.)

2) Quando estava saindo do prédio, vi um senhor que pareceu vagamente familiar. (Tinha cara de burguês safado, deveria ser candidato do DEM.) Ele me cumprimentou como se me conhecesse e respondi com a mesma cara franzida que olho para todos os conhecidos ou desconhecidos que me cumprimentam na rua.

- Não está me reconhecendo?

- Francamente, não.

- Deixa quieto então.

Tradução: "Você já votou mesmo, foda-se."

3) Descobri hoje que meu pai anda de bicicleta. Ele ESCOLHEU andar de bicicleta. Pense nisso.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Texto Geográfico

Eu já usei camisetas de "Salve as baleias", mas devo confessar que não estava sendo 100% sincero. Nada contra as baleias, mas não sinto real empatia por elas, ou golfinhos, ou bichos aquáticos em geral. Talvez pela minha aversão a oceanos e mares. E rios. E piscinas. Mas o resto do mundo também não simpatiza muito com biodiversidade que se crie em piscinas. (Esperaí, deixa eu começar de novo. *A-ham*)

Bicho-de-pé. Nunca entendi direito de onde ele vem nem porque se enfia em pés. Não é possível que o ciclo reprodutivo dele dependa dos pés, porque estaria extinto nas primeiras duas décadas depois de Noé. Ele dói e faz bagunça, é óbvio que as pessoas vão tirá-lo do pé e matá-lo. Talvez também se enfie em bichos que não tenham como despejá-lo, mas aí é injusto com meu argumento, ninguém disse que ele pode escolher ser bicho-de-pata. Pela minha lógica, ele nem existiria, mas já vi bicho-de-pé, então existe. Nunca tive, mas vi. Eu tive algumas vezes bicho geográfico, aquele que fica andando a esmo, desenhando bacias hidrográficas na sua pele. Aí você faz o que provavelmente não está previsto no ciclo de vida dele, que é passar uma pomada mágica que apaga bicho geográfico. Mas aí já estou divagando.

Imagine que o bicho-de-pé pudesse pensar e se comunicar com humanos. E que oferecesse um acordo como "Olha, e se eu não doesse nem atrapalhasse muito? Vamos fazer assim: eu fico no seu dedão e ele incha um pouquinho mas, em vez de doer, fica com cheiro de jasmim. Ou deixo seu dedão geladinho no verão e quentinho no inverno, que tal?" E etc etc. Estou certo que um bicho-de-pé inteligente poderia sugerir vários efeitos benéficos para se enfiar em pés. Independente disso, acho que as pessoas recusariam e ele se extinguiria em duas décadas do mesmo jeito. Você aceitaria um bicho dentro do seu pé mesmo que não doesse? Se tem quem se contorça só de pensar que Yakult contém bichinhos microscópicos que vão parar dentro de você...

Boa parte do discurso ecológico me soa como o caso do bicho-de-pé. A raça humana é um incômodo para o planeta. O que as pessoas sabem fazer melhor é estragar coisas. É da natureza humana mudar permanentemente a natureza a sua volta. É até meio chato você pedir para as pessoas pararem de poluir e extinguir espécies e consumir recursos porque é só o que elas sabem fazer. E o fim do mundo vai chegar, sem dúvida. Fim do mundo, aliás, é um conceito sempre apresentado de modo antropocêntrico. Vai chegar o fim de um mundo capaz de sustentar vida humana, o mundo não está nem aí. Se os humanos morrem, azar, outra espécie pode continuar vivendo. Os humanos acabam, o mundo em si continua. E mesmo se não sobrar espécie nenhuma, porra, eu sou o MUNDO, uma bola grande que voa no espaço. Acabar é que não acabo. E se acabar, nem ligo, eu não penso, eu só estou falando porque sou personagem de um texto de um blog praticamente extinto. (Ok, divagando de novo.)

Continuando, os ecologistas são mais ou menos como bichos-de-pé que tentam negociar, fazer outra coisa em vez de poluir / desmatar / matar [que não é o contrário de desmatar por acidente linguístico]. É legal, sabe, ecologistas são legais. Mas eles não vão conseguir convencer o resto das pessoas, e não podem realmente ficar bravos porque as pessoas estão fazendo o que sabem fazer, vêm os ecologistas e dizem para as pessoas não serem mais pessoas e pararem de doer. Não é assim. É como tentar adestrar todos os tubarões para comerem apenas vegetais, não é natural. Além disso, a raça humana vai continuar inchando e tomando espaço e mudando o ambiente à sua volta. Do contrário, seria um bicho-de-pé sem pé. E acho bem razoável afirmar que, mesmo tendo em conta todas as inconsistências da história humana sobre a Terra, seria muito idiota chamar de bicho-de-pé um bicho que nada tivesse a ver com pés.

Estando claros e irrefutáveis meus argumentos, e aproveitando que você leu até aqui, lanço uma proposta. Uma campanha realmente ecológica, preocupada com o planeta e com a biodiversidade, sem esse papo babaca de "Se você não cuidar dos leões hoje, seus netos só saberão o que é leão através dos livros podcasts hologramas". Isso é muito, muito babaca. É dizer que o único motivo para não caçar bichos é deixar alguns vivos para colocar num zoológico, apontar e mostrar pro filhão: "Olha, o rei da selva!" Bom, ele NÃO ESTÁ NUMA SELVA, ESTÁ? ESTÁ??? Aliás, foi você quem inventou essa história de rei da selva na sua trama inútil de simbolismos vazios, seu, seu... aaAAARRrh! Gnharg... ar... arf. (Desculpe, vou me recompor.)

Ah é, a campanha. Vamos matar humanos! É o melhor para o mundo. Matemos humanos e o resto a natureza faz sozinha, se refloresta, equilibra populações de bichos. Já pensei em tudo, é só começar. O melhor é matar bebês, são os mais fáceis. E ainda estão no começo do ciclo de vida, não tiveram tempo de ser reproduzir. Esterilizar dá trabalho, demanda ciência, e ciência é ruim. Sabe como é, hoje você está observando insetos, amanhã construindo barragens; quando menos espera, já tem bomba atômica. Ciência é ruim. Vamos matar bebês, com pedras pesadas. É o que os bichos-de-pés fariam se não quisessem manter os humanos vivos em cativeiro e usar seus pés como moradia. (Talvez adormecidos, com sua mentes imersas em uma simulação da realidade gerada por computadores para evitar que coçem os pés.)

E então, matar bebês? Põe o dedo aqui que já vai fechar.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Diário de um amnésico, capítulo... hmm... err... mais recente

Amostra de quão ruim anda minha atenção / memória de curto prazo: parei no meio do banho sem saber se já havia me ensaboado. Como nunca ouvi falar de intoxicação por excesso de limpeza, resolvi me ensaboar de novo (ou não, vai saber). Já estava levantando o braço para pegar o condicionador quando parei de novo e pensei "Peraí... será que eu me ensaboei até o final ou parei na metade para passar condicionador?"

O resto do banho foi meio que cancelado para evitar que eu seque uma nascente em algum lugar.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Disque 2 para dar choque

*ti-ring*

 Oi.
 ...
 Alô.
 ...
 Alô, desgraça! Mas que...
 *biiip* Alô!
 Ah, então.
 Com quem eu falo?
 Michel.
 Ah, aqui é a Michele!
 ... ? [Pausa para treinar minha expressão de "E DAÍ, mulher?"]
 Você é o responsável?
 Não sou responsável, não.
 Hmm... e a Ana, quem é?
 Minha irmã.
 Ah, posso falar com ela?
 Sobre o que é, mesmo?
 Eu estou ligando para falar do Jornal Blá.
 Foi você quem ligou há pouco? A ligação caiu.
 Não fui eu não, senhor, eu não liguei antes.
 É que alguém ligou de um jornal, achei que...
 Não ninguém ligou eu nunca liguei para esse número tchau.
 ??? Ei, volta aq...

*tu-tu-tu...*

•   •   •

Ainda não sei bem o que eu disse de especial, mas é quase certo que acabei usando sem querer algum código secreto espanta-telemarketing. Por favor, alguém me ajude a descobrir o que é.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

(não peçam explicações, não sei o que foi isso, são 3 da manhã)

Estava lá, minha amiga, com roupa de ficar em casa, cara de cansada do mundo. "É impossível me amar, é isso?" A pergunta ecoava na cozinha. Ecoaria em qualquer outro cômodo — como, aliás, acontecia freqüentemente. Soava o tempo todo na sua cabeça. "Pára, não é assim, não tem isso. Esse amor que vendem por aí dura só 30 minutos, ninguém vai te amar 24 horas por dia. Nem sei porque você ia querer isso."

Inútil responder emoção com lógica, uma resposta dessas nunca satisfaz. Então me estiquei da cadeira, com cuidado para não derrubar nada da mesa — até porque eu já estava olhando por alguns minutos, calculando a melhor posíção. Me estiquei e lhe dei um beijo, quase distraído, tão natural quanto inédito. E voltei pro meu lugar com uma completa cara-de-pau, aquela que requer anos de treinamento para sair perdoável. (Ainda funciona.) Ela ficou parada, talvez decidindo ainda qual sorriso usar.

•   •   •

— O que foi isso? Como eu nunca soube disso? Você... me ama?

— Eu sinto esse carinho que sempre senti. Tenho que dar nome? Como as pessoas sabem que estão sentindo a mesma coisa quando dão o mesmo nome?

— Então me explica o que você sente.

— Complicado. Faz assim: pergunta o que eu faria ou não por você e te respondo.

— Você casaria comigo?

— Dica: comece com perguntas fáceis.

— Então... você namoraria comigo?

— Ah, isso sim. E se puser uma roupa bonita, até levo pra sair.

— Você me daria outro beijo?

Era agora, the real deal. Não tinha elemento surpresa. Tinha era a expectativa do primeiro, maldito. Esse era para ser a tradução de sentimento acumulados há anos. Tarefa impossível, vá, mas enquanto tivesse chances, ia tentar até conseguir. Puxei pela mão para que ficasse de pé. Solene era melhor. Tinha que ter mão no cabelo, tocar do jeito certo, respirar no mesmo ritmo; não era hora de economizar nada. Foi beijo e depois abraço, os dois demorados.

— É esse, bem esse. É o que estava esperando. É o abraço que quero pra sempre. É o beijo que falou sem precisar de palavras.

— Eu não acho, foi pensado. Foi estudado para agradar, para convencer. É ilusório. A coisa real vai vir algum dia e passar despercebida, de tão real.

— ...

— ...

— Só vai durar 30 minutos?

— 24 horas, não garanto. Vamos ter que negociar um dia por vez.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Verso reverso

Fiquei aqui imaginando se o slogan clássico da Tostines seria aprovado hoje em dia. Afinal, você tem que associar ao produto apenas características positivas. Vender mais por ser fresquinho é bom, mas o slogan não afirma isso. Aliás, ele está em dúvida se é isso mesmo ou se Tostines é fresquinho porque vende mais. No segundo caso, o biscoito não tem mérito nenhum, só é fresquinho se for vendido rápido. É provável até que os concorrentes fossem tão bons quanto se vendessem mais. Quase um "Olá! Compre Tostines, ele é completamente normal! Não compre outros biscoitos ou eles vão ficar melhores que o nosso!" Certeza que uma campanha dessa não seria aprovada em 2008, não passaria nem do brainstorm. Onde já se viu, colocar perguntas na cabeça dos consumidores?

Esta é uma nota de dois reais que recebi de troco na padaria.
Não tem relação nenhuma com o texto.

Isso me lembra dos comentários sobre o último debate Obama vs McCain. Andam dizendo que o primeiro está se comportando e falando de forma muito mais "presidencial". Mas ele não é o candidato da renovação? Ele não deveria propor um curso de ação diferente do que os presidentes têm seguido? Pode ser um erro no meu circuito lógico, mas parece uma situação onde menos (presidencial) é mais.

(Se bem que o pessoal lá de cima tem uma idéia peculiar sobre presidentes. No primeiro debate, McCain perguntou quantas brigadas o oponente enviaria ao Afeganistão. Assim, pedindo um número. E pior, Obama respondeu: duas, que se somariam as tropas que já estão no Iraque. E desde quando um presidente tem que saber isso? Os generais deles servem pra quê?)

Mas me diz o que Tostines tem a ver com Obama. (Quando me veio à cabeça, havia toda uma cadeia de intermediários ligando um ao outro. Agora, só lembro das pontas.)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Deus e o diabo na tabela periódica

Não quero me gabar nem deixar ninguém com inveja, mas acabo de perceber que tenho uma questão existencial a menos para responder. Eu sei qual é a minha missão na Terra: descobrir qual é a escova de dentes mais abominável já criada pelo homem. Ou isso ou meus ancestrais invadiram muitas tumbas egípcias; de qualquer forma, o destino tem posto em meu caminho escovas cada vez piores. Não importa quanto tempo eu passe olhando, analisando, medindo, tentando lembrar detalhes infames dos modelos anteriores: a nova sempre consegue bater recordes de decepção com algum detalhe inédito.

Tomemos como exemplo minha última aquisição. Ela é simpática, não tem aqueles montes de firulas para massagear a gengiva ou cinco níveis diferentes de cerdas (elas são cortadas em uma ligeira curva e só). O problema mesmo é o corpo da danada, feito de um material translúcido que, vendo na embalagem, você pensa "deve ser flexível e macio" e nem dá muita bola. Eis que o tal material é um polímero maldito, duro como acrílico, que não consigo conceber que tenha sido testado em humanos vivos. É como escovar os dentes com um pedaço indestrutível de pé-de-moleque. Feito com areia em vez de açúcar. Mesmo depois de pensar bastante, consigo listar poucos materiais que seriam mais inadequados à função:

· madeira
· cobre
· queijo
· urina
· soda cáustica

Não satisfeitos em criar um objeto apenas repulsivo, os responsáveis resolveram torná-lo extremamente odioso ao incluir um "limpador de língua": várias saliências feitas do mesmo material. Assim, enquanto você escova os dentes de cima, pode alegremente lixar os de baixo.

Mas tudo bem. Se for mesmo a minha missão, acho que não é das piores. Talvez eu até consiga encontrar um enxaguante bucal sabor cebola para acompanhar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Banana pra todo mundo

Ontem comi uma maçã. É um evento tão incomum que eu costumo alardear. Antes dessa, comi uma em... 18 de Junho. A data está registrada aqui porque fiz questão de contar pra V. Isso dá uma média de 0,01 maçã por dia — um pouco abaixo da minha meta de uma por dia. (Olha, a mesma meta de atualização do blog! Mas até funcionou malemá por alguns meses, vai... de 2004.)

Só sei que precisei de uma maçã ontem porque o organismo estava clamando. Meu estômago chamou de lado e disse "Olha, vou te dizer na boa, mas leva a sério: maçã. Agora. Aproveita que sou eu quem está pedindo, porque você sabe que sou civilizado e aceito muita coisa sem chiar. Mas se o intestino tiver que subir até aí, te prepara que a coisa vai feder. Não queira ver o intestino irritado!" Ele não falou exatamente com essas palavras, mas bateu uma necessidade visceral de comer maçã. Pois não dizem que os desejos das grávidas são uma artimanha do organismo para conseguir o que está em falta? Como se ele estivesse pedindo os nutrientes necessários para montar o bebê? Quer dizer, me disseram, eu acreditei. Não estou montando bebê nenhum, mas gosto de imaginar que tem uma glândula — pode até ser a pineal, vai saber? — em algum lugar calculando e controlando o que eu preciso comer. Algo como "Acabou o potássio? Peraí que vou deixar esse animal com vontade de comer banana já já!"

Como estou abusando na alimentação há meses, resolvi ficar perambulando pelo mercado para ver se alguma coisa saltava à vista da glandulazinha. Não que haja muitas opções: no último levantamento realizado, concluímos que apenas 4 vegetais não me são nocivos. Maçã, batata... hmm... orégano... e, e... que mais? Ah é: "iogurte com polpa de fruta" foi incluído também, pra fazer volume. A lista poderia ter cinco itens, mas tenho encontrado muita resistência na comunidade científica para classificar o pão como vegetal. (É feito de cereais, ora!) Ainda assim, fiquei lá passeando pra ver se a pineal soava algum alarme.

Infelizmente, nunca saberemos se ela tentou me dizer alguma coisa: acabei distraído pelo Chandelle*.

* Mas sem essa história de sobremesa cremosa: Chandelle conta como iogurte, né? Logo, vegetal.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Roots Rock Riot (Skindred, 2007)

Compor músicas mesclando melodias de reggae, bases de metal, andamento punk rock e elementos de hip-hop soa criminoso, certamente. Mas o crime é perfeito.

O problema do primeiro álbum do Skindred é que ele irretocável. Fica claro que os caras penaram até conseguir juntar tantos gêneros musicais em faixas que funcionam tão bem. Depois de um trabalho tão bem feito, o que você faz no álbum seguinte? Como se superar?

Roots Rock Riot me decepcionou no começo por soar muito aquém de Babylon (2002). Tudo parecia muito mais simples — e perigosamente próximo do hardcore. Não restou quase nada do hip-hop e o reggae ficou restrito à performance vocal.

Acabei deixando o álbum de lado, mas creio que ele esteve cozinhando no meu subconsciente e voltou para me assombrar há algumas semanas. E só então as coisas clicaram: depois de fazer algo insuperável, a banda resolveu desfazer tudo e inventar algo novo.

Vez ou outra me pego cantando State of Emergency, todo dia. Não exatamente cantando a letra; perceba que a música já começa com o vocalista e ele não pára um segundo. Não tem pausa para solo, nada. Letra do início ao fim. (Some a isso o sotaque semi-compreensível e a dificuldade para cantar junto assume ares olímpicos. Mas vá lá: ao menos, a melodia é fácil.)

Cause Ah Riot causa vontade automática de pular, deve ser lindo tocar isso num show. Mesmo com o hardcore mostrando sua cara feia. RatRace e Alright também têm seu charme, mas você não vai aproveitar muito do álbum se não tiver gostado dessas duas: