Eu sou muito curioso. Mais do que pareço, e acho que já não pareço pouco. Especialmente no que diz respeito à vida alheia. O que é condenável, eu sei, mas ao menos não sou fofoqueiro (quando sóbrio). Eu apenas sou um bom ouvinte e gosto de praticar, mesmo quando as outras pessoas não estão sabendo. (Isso; a minha justificativa é essa mesma.) E o pior de tudo é: eu sou curioso sobre QUALQUER coisa, não precisa ser interessante nem nada. Basta que eu ainda não saiba.
Estava escovando os dentes hoje e dois sujeitos entraram no banheiro conversando. Falando sobre computadores, e softwares, e sobre não conseguir instalar impressoras... bah, eu ouço isso todo dia; escovar os dentes era mais divertido. Até que um deles falou:
figurante593: "Sabes esse tal de Orkut? Cara, é isso o que está acabando comigo..."
figurante594: "Ah é, tu tens?"
figurante593: "Não, aí é que tá! Eu nem sei como é. Mas ela tem, e vez ou outra..."
Nesse momento eles já estavam saindo. "Ei! Ela quem? E como o Orkut acaba com você se nem usa? Deve haver alguma explicação lógica, já que ninguém precisa inventar um negócio bobo desses. O que é, propaganda negativa? Ou ela passa mais tempo no computador do que com você? Ou... ou... vamos, me dá uma dica!"
Pronto, a semente do mal já está plantada. Eu começo a imaginar todas as possibilidades e variáveis e PRECISO saber qual delas é a verdadeira. É uma maldição, isso: inventar histórias e motivos e hipóteses por trás de tudo e precisar confirmar depois. Outro dia vasculhei a Wikipédia, desesperado porque precisava saber por que afinal o Gol se chama Gol. (Gol Gol; o Gol carro, mesmo.) Já comecei e abandonei vários rascunhos de histórias sobre eventos incomuns e motivações improváveis que perambulam na minha cabeça constantemente. I blame Seinfeld for that.
Bom, eu já havia terminado minha higiene dental... não seria tããão estranho se eu COINCIDENTEMENTE começasse a andar na mesma direção que os sujeitos seguiam, não é? Todos os caminhos levam à saída; que diferença faz qual eu pego? Alcançá-los foi fácil, mas... oh no... praça de alimentação ainda cheia, malditas pessoas falantes! E esses dois caras falavam baixo, como se achassem que ninguém mais precisaria ouvir. Quase cutuquei um camarada que andava ao lado para perguntar "Você ouviu o que ele disse?"
figurante593: "... sshhfrzz..."
figurante594: "... azsh, uhrsh, zissht..."
Mais alto! Existe uma distância mínima a ser respeitada na caminhada regular e ela não é o bastante! E posso seguir pessoas, mas não colado nelas – eu não sou stalker!
Finalmente, cheguei ao limite: os dois se dirigiram a um balcão para pedir uma comida qualquer, e eu não ia poder ficar parado atrás deles de bobeira. E definitivamente não compraria mais comida apenas para manter o disfarce.
...
Eu sei, eu sei. Procurar ajuda de um profissional.
Até já sei o que ele vai dizer: "Você tem que passar menos tempo cercado de máquinas."