sexta-feira, 5 de junho de 2009

Texto Geográfico

Eu já usei camisetas de "Salve as baleias", mas devo confessar que não estava sendo 100% sincero. Nada contra as baleias, mas não sinto real empatia por elas, ou golfinhos, ou bichos aquáticos em geral. Talvez pela minha aversão a oceanos e mares. E rios. E piscinas. Mas o resto do mundo também não simpatiza muito com biodiversidade que se crie em piscinas. (Esperaí, deixa eu começar de novo. *A-ham*)

Bicho-de-pé. Nunca entendi direito de onde ele vem nem porque se enfia em pés. Não é possível que o ciclo reprodutivo dele dependa dos pés, porque estaria extinto nas primeiras duas décadas depois de Noé. Ele dói e faz bagunça, é óbvio que as pessoas vão tirá-lo do pé e matá-lo. Talvez também se enfie em bichos que não tenham como despejá-lo, mas aí é injusto com meu argumento, ninguém disse que ele pode escolher ser bicho-de-pata. Pela minha lógica, ele nem existiria, mas já vi bicho-de-pé, então existe. Nunca tive, mas vi. Eu tive algumas vezes bicho geográfico, aquele que fica andando a esmo, desenhando bacias hidrográficas na sua pele. Aí você faz o que provavelmente não está previsto no ciclo de vida dele, que é passar uma pomada mágica que apaga bicho geográfico. Mas aí já estou divagando.

Imagine que o bicho-de-pé pudesse pensar e se comunicar com humanos. E que oferecesse um acordo como "Olha, e se eu não doesse nem atrapalhasse muito? Vamos fazer assim: eu fico no seu dedão e ele incha um pouquinho mas, em vez de doer, fica com cheiro de jasmim. Ou deixo seu dedão geladinho no verão e quentinho no inverno, que tal?" E etc etc. Estou certo que um bicho-de-pé inteligente poderia sugerir vários efeitos benéficos para se enfiar em pés. Independente disso, acho que as pessoas recusariam e ele se extinguiria em duas décadas do mesmo jeito. Você aceitaria um bicho dentro do seu pé mesmo que não doesse? Se tem quem se contorça só de pensar que Yakult contém bichinhos microscópicos que vão parar dentro de você...

Boa parte do discurso ecológico me soa como o caso do bicho-de-pé. A raça humana é um incômodo para o planeta. O que as pessoas sabem fazer melhor é estragar coisas. É da natureza humana mudar permanentemente a natureza a sua volta. É até meio chato você pedir para as pessoas pararem de poluir e extinguir espécies e consumir recursos porque é só o que elas sabem fazer. E o fim do mundo vai chegar, sem dúvida. Fim do mundo, aliás, é um conceito sempre apresentado de modo antropocêntrico. Vai chegar o fim de um mundo capaz de sustentar vida humana, o mundo não está nem aí. Se os humanos morrem, azar, outra espécie pode continuar vivendo. Os humanos acabam, o mundo em si continua. E mesmo se não sobrar espécie nenhuma, porra, eu sou o MUNDO, uma bola grande que voa no espaço. Acabar é que não acabo. E se acabar, nem ligo, eu não penso, eu só estou falando porque sou personagem de um texto de um blog praticamente extinto. (Ok, divagando de novo.)

Continuando, os ecologistas são mais ou menos como bichos-de-pé que tentam negociar, fazer outra coisa em vez de poluir / desmatar / matar [que não é o contrário de desmatar por acidente linguístico]. É legal, sabe, ecologistas são legais. Mas eles não vão conseguir convencer o resto das pessoas, e não podem realmente ficar bravos porque as pessoas estão fazendo o que sabem fazer, vêm os ecologistas e dizem para as pessoas não serem mais pessoas e pararem de doer. Não é assim. É como tentar adestrar todos os tubarões para comerem apenas vegetais, não é natural. Além disso, a raça humana vai continuar inchando e tomando espaço e mudando o ambiente à sua volta. Do contrário, seria um bicho-de-pé sem pé. E acho bem razoável afirmar que, mesmo tendo em conta todas as inconsistências da história humana sobre a Terra, seria muito idiota chamar de bicho-de-pé um bicho que nada tivesse a ver com pés.

Estando claros e irrefutáveis meus argumentos, e aproveitando que você leu até aqui, lanço uma proposta. Uma campanha realmente ecológica, preocupada com o planeta e com a biodiversidade, sem esse papo babaca de "Se você não cuidar dos leões hoje, seus netos só saberão o que é leão através dos livros podcasts hologramas". Isso é muito, muito babaca. É dizer que o único motivo para não caçar bichos é deixar alguns vivos para colocar num zoológico, apontar e mostrar pro filhão: "Olha, o rei da selva!" Bom, ele NÃO ESTÁ NUMA SELVA, ESTÁ? ESTÁ??? Aliás, foi você quem inventou essa história de rei da selva na sua trama inútil de simbolismos vazios, seu, seu... aaAAARRrh! Gnharg... ar... arf. (Desculpe, vou me recompor.)

Ah é, a campanha. Vamos matar humanos! É o melhor para o mundo. Matemos humanos e o resto a natureza faz sozinha, se refloresta, equilibra populações de bichos. Já pensei em tudo, é só começar. O melhor é matar bebês, são os mais fáceis. E ainda estão no começo do ciclo de vida, não tiveram tempo de ser reproduzir. Esterilizar dá trabalho, demanda ciência, e ciência é ruim. Sabe como é, hoje você está observando insetos, amanhã construindo barragens; quando menos espera, já tem bomba atômica. Ciência é ruim. Vamos matar bebês, com pedras pesadas. É o que os bichos-de-pés fariam se não quisessem manter os humanos vivos em cativeiro e usar seus pés como moradia. (Talvez adormecidos, com sua mentes imersas em uma simulação da realidade gerada por computadores para evitar que coçem os pés.)

E então, matar bebês? Põe o dedo aqui que já vai fechar.

Um comentário:

Nine de Azevedo disse...

Nossa Michel, fazia tempo que nao aparecia e surpresa !vejo a sua simpatica campanha de matar bebes!Vc provavelmente vai ganhar muitos adeptos de tao fofa que ela é...bjs