sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Cocó?

Estava ouvindo DR Netradio hoje. Acho que o nome já estragou a surpresa, mas lá vai: é uma rádio online. Ouço ela já faz... um dia. O que o nome não entrega tão claramente é a origem dinamarquesa. (Como todas as rádios da Dinamarca, conta com comerciais em línguas alienígenas, o que entretém por si só.)

Após acompanhar o canal DR World tempo o bastante para descobrir que um terço da world music relevante aos dinamarqueses é feita no Brasil, encontrei a seguinte jóia:

Piejo Kury Piejo

[Ficarei devendo maiores detalhes porque todos os que encontro estão escritos em gibberish nórdico. Como vocês perceberão, o link é de um "vídeo" hospedado no YouTube, que considero indigno de incorporar aqui porque não tem imagem, só áudio. E eu sou um cara conservador nesse ponto; essa história de "vídeo sem vídeo" é moderna demais para mim.]

Por favor, atentem para o solo de cacarejo a partir de 2:37, é lindo. Pensei seriamente em isolar e usar como campainha do celular. Fica difícil entender como demorou tanto para que alguém percebesse o potencial musical das galinhas. Ademais, temos um poético refrão que exprime toda a influência da música brasileira: "Nenhum guri quer, meu maiô vou botar..."

Fora isso, não é uma música especialmente engraçada. O efeito é maior quando você esbarra nela por acidente e aumenta o som para que todos no trabalho possam ouvir.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A nova ordem

Gosto de maçã com canela, mas não estava botando fé nesses novos milkshakes do Bob's. Francamente: podendo escolher entre esse e o de Ovomaltine...! Soa ridículo. Resolvi provar mesmo assim, e dou meu aval*. Talvez esteja com 107% do nível de doçura desejável, mas nada que não possa ser corrigido com o tempo. O genial foi terem preservado a crocância característica do Ovomaltine, aquele estado misto parte sólido, parte líquido, parte "vamos brincar com a comida". Não fossem esses flocos, seria trivial, comparável à vaca preta. Ainda assim, banana caramelada está além do meu limite, por enquanto.

Mas o que realmente me deixou abalado foi o seguinte: milkshake grande, que tem 700ml, custa R$ 7,00. A um centavo o ml, você pode acreditar estar fazendo um bom negócio, até lembrar que um pote de dois litros da Kibon, que naturalmente tem dois litros, sai em promoção por R$ 10,00. Mesmo fora de época, não passa de R$ 14,90 – o que dá entre 0,5 e 0,745 centavos por ml, no máximo. Não sei quanto está custando o Ovomaltine, mas qualquer pessoa minimamente enjambradora fica tentada a repetir a fórmula do Bob's em casa. Ou inventar novas, após adquirir alguma confiança (digamos: vaca preta de napolitano com Pepsi Twist). Enfim: caso ocorra uma guerra que seletivamente destrua todas as instâncias do Bob's no planeta, a raça humana não estará completamente perdida, pois há esperança de continuar fazendo de forma caseira o clássico milkshake que redime a cadeia de fast-junk. Mas e o pó mágico sabor maçã com canela? Onde vamos arranjar isso, qual país tem essas reservas?

A perspectiva da guerra é mesmo algo aterrorizante.

* Hique, esquece. "Avalmaltine" não vai colar.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Trânsito, carrinho e gráficas: a contraposição das escolhas na... ah, ok, eu estou enrolando, não sabia que título colocar. Felizes?

Nesta segunda, começou a trabalhar na recepção a guria mais bonita que já vi na vida. Incluindo TV, revistas, filmes, devaneios. Sério. Até porque todas essas atrizes e modelos ficam maravilhosas por conta de maquiadores profissionais, e pós-produção, e discordianos. Quero ver andarem na rua com maquiagem trivial e continuarem sendo as mais bonitas do mundo. Sério, não estou exagerando, é sério! Todos os homens lá no trabalho estão inquietos. Não dá para descrevê-la, só mostrando foto. Posso tentar conseguir uma.

"Oi, já voltou do almoço? O que você... ei! Que 'click' foi esse? Veio daqui... olha só, alguém esqueceu em cima da mesa essa câmera com o timer acionado. Pode deixar que eu levo e descubro de quem é."

Na sexta, o chefe tinha vindo com um papo de não ficar abutreando a nova secretária só porque era bonita. "Que absurdo", pensei, "como se fôssemos crianças!" Logo que cheguei para a labuta hoje, um colega já avisou que as emoções seriam intensas. Quanta bobagem. Pois, quando fui ver a guria, até me baixou a pressão. Bambearam as pernas. Rapaz. Sério.

"Mas que babaca, vai ficar agora falando só porque a guria é bonita!" Olha, não é que eu esteja apaixonado ou algo assim. Deve ser algum mecanismo interno masculino, o mesmo que rege a gentileza na faixa de pedestres. Se vocês nunca repararam, funciona assim:

Homem dirigindo; você, homem, tentando atravessar a rua na faixa: corra como se sua vida dependesse disso, porque depende. O motorista não vai dar arrego. Se quem está tentando atravessar é uma mulher feia, a dificuldade é menor: o motorista pára, mas faz carranca para apressar a travessia. A próxima categoria de preferência são velhinhas e pessoas com problemas motores: o motorista pára e ao menos finge paciência, sob pena de ser considerado um bárbaro pelos demais. Mulher com criança vem em seguida, e ainda mais regalias têm as mulheres com carrinho de bebê. (Se você é mulher e quer caminhar tranqüila em meio ao transito da cidade, leve um carrinho, mesmo que com um bebê falso dentro*.) Agora, se você é uma mulher bonita, está no ápice da escala de respeito ao pedestre. Pode andar de olhos fechados que não há perigo. O trânsito pára, literalmente. (Considerando motoristas do sexo masculino.) Talvez mulheres grávidas recebam respeito semelhante, mas sem a mesma reverência.

Agora, fatos: mulher bonita vai te dar bola porque você parou para ela atravessar na faixa? Não. Aliás, ela vai sequer olhar para você? Não. Acenar? Fora de questão. Buzinar conta pontos? Improvável. Resumo: você não vai pegar mulher no trânsito, deixe de ser babaca. Mas, por mais lógico que seja isso, mulheres bonitas deixam os homens bobos, é infalível.

Enfim... a guria, brincando, poderia ser modelo, mas ela quer arriscar tudo pelo sonho de ser recepcionista numa gráfica pequena; respeito e admiro isso. Estava já decidido a largar o emprego, mas vou ficar um pouco mais só para poder vê-la. Digo, para poder ver o exemplo de alguém seguindo seus sonhos. (Isso, essa é a desculpa oficial.)

* Tomando como base trânsito e bebês falsos típicos de Floripa. Não me responsabilizo por danos provenientes da aplicação destas observações em outras localidades.

domingo, 14 de outubro de 2007

Arte moderna

Estava eu numa empolgante operação de backup no trabalho. Meus computadores ocupados, e não podia sair invadindo os dos outros. Sabem essas pessoas que rabiscam em qualquer papel quando estão distraídas ao telefone? Eu não faço isso, não rabisco nunca – exceto quando estou deprimido. A última vez que fiz, algumas semanas atrás, ficou assim:

Quando você clica na imagem, ela amplia. Na maioria das vezes.
Recomendo abrir em uma nova janela. Eu faria para você se soubesse como.

Qualquer traço em azul claramente não é meu, deve ser do Gerson; esse foi o primeiro papel que apareceu. E minha letra (essa em preto) não é assim. Exceto quando estou deprimido. E com preguiça.

Como a intenção do artista pode não se mostrar claramente aos leigos, peço licença para fazer uma breve comentário sobre a obra. O críptico traço em preto no canto superior esquerdo, não faço idéia do que seja, já estava lá. Ou talvez eu estivesse testando a caneta. De qualquer forma, tem inegável influência das representações de barbatanas de tubarão pelas tribos polinésias.

As girafas não deram muito certo e ficaram parecidas com cachorros, então desenhei um gato para disfarçar.

O aeroplano dental é reflexo de minhas experimentações na infância, quando tinha brinquedos de menos e lixo demais.

A coxinha atômica, bom... foi um dos primeiros desenhos, veio logo depois do garoto-moeda. Vocês vão ter que me dar um desconto, considerem como aquecimento.

Destaque central para a releitura do clássico da comunicação visual xulaca: o Homem de Porta de Banheiro com Braço na Cabeça. Auto-explicativo, importância inquestionável, homenagem mais do que adequada.

Pássaros e aeronaves são um motivo freqüente, quase sempre marcados pelo invariável preto da caneta... er, preta. E de ponta grossa, então não havia muita opção além de preencher os contornos. Hachuras constituem uma ousadia não recompensada, como mostra o pássaro-mão da mão de muitos dedos do que dois voando.

O fusca é banal e a bolha com olhos nem eu entendo. Resta O Sapateiro. Enigmático. Assim permanecerá.


(Fiquei devendo o clipe de duas cabeças, que desenhei depois de já ter escaneado.)

Obrigado.

domingo, 7 de outubro de 2007

Educação moderna

Privado do ambiente mágico do Angeloni de Capoeiras, resta-me apenas o Giassi aqui perto de casa como fonte de novas histórias fantásticas. Infelizmente, até hoje não presenciei nenhuma.

Ontem, porém, vi uma mulher ralhando com um molequinho para que ficasse dentro do carrinho (desses que ficam embutidos nos carrinhos, eu sei que você sabe qual é). "Se tu saíres daí, vais apanhar! Eu te levo no banheiro e te bato!" Fiquei avaliando os avanços conseguidos pela Psicologia moderna em relação à educação infantil. Poucas décadas atrás, nenhum pai hesitaria em esquentar a bunda de um filho no tapa ao menor sinal de indisciplina. Aparentemente, o padrão mudou. Fazer isso no novo milênio é bárbaro e vergonhoso, por isso os pais agora cultivam a punição física como atividade clandestina. É mais ou menos como um vício que você mantém longe dos olhos dos outros.

Lembro de ter apanhado raríssimas vezes dos meus pais. (E não é por falta de memória, eu realmente lembro da minha infância.) Mas eu tinha um medo danado do meu pai, e não faria nada que merecesse surra. Nem sei porque eu tinha tanto medo, ele nem era bravo; era sério, só. (Alguém pode dizer que é porque eu sou capricorniano e obedeço autoridades e hierarquias. Well, shut up.) Algo no meu pai despertava em mim o temor/"respeito" que as igrejas tradicionais tanto prezam. Esse é o background que me tornou um adulto conformista e manipulável, o cidadão ideal para uma sociedade de consumo sem controle adequado de natalidade.

Ah é, eu sou favorável ao controle de natalidade. Tem muita gente no mundo, é isso que causa violência e poluição. Não me deixo emocionar pelos filmes de ficção futuristas, que mostram situações injustas onde um casal quer ter filhos e não pode. "Algumas famílias são maiores, outras menores. É desumano impor um padrão para todos, é contra o instinto natural." Aqui vai uma regra: se você não conseguir recitar os nomes de todos os seus filhos (legítimos ou não) em 2 segundos, está proibido de ter mais, sob pena de ter seus privilégios cortados. (A interpretação fica à cargo do juiz*.) Uma vantagem adicional desse sistema é que inibiria a escolha de nomes como Robervalésio ou Jorgeuóchintom, o que inegavelmente contribuiria para a evolução da sociedade.

* Quando digo "juiz", refiro-me a um sistema legal rápido e eficaz, à la Juiz Dredd.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Poker face

Ah, sim, desconsiderem. Eu levantei e escrevi o post anterior sonambulamente, para dormir logo em seguida. Praticamente o mesmo que escrever bêbado. (Não estou de forma alguma detratando tal modalidade poética.)

Estava até de bom humor, hoje. Não o bastante para fazer a barba – mas nem discuti com ninguém, vejam só.

(Detalhe: não faço a menor idéia do que eu quis dizer com "poker".)

Poker

Foi assistindo TV que o pensamento me assaltou: eu havia esquecido dela. E junto veio um misto de alívio e aflição; a idéia de que, a partir desse ponto, ela não mais faria parte da minha vida – nem mesmo da imaginária. Tantas vezes estive triste por causa dela, por falta dela... mas agora, não. Estou triste por inúmeras outras coisas. Mas talvez por todas essas coisas é que tenha me distraído e parado de pensar nela, porque foi só lembrar de tê-la esquecido que voltaram todas as lembranças, as boas e as ruins. Será que o único modo de esquecê-la é procurar uma dor maior? Já me convenci que não é a procura de um prazer maior, porque nenhum se compara. Ninguém me transforma como ela. Por ninguém mais eu morreria ou mataria. Não sou dramático nem violento, esse é o efeito que ela causa em mim. A disposição para pagar qualquer preço, para alcançar meus extremos. Sou assim só por ela, por ninguém mais. Meu eu dela: menos eu, com menos controle, menos sossego, porém mais completo, mais complexo.

Isso assusta, porque deixo de pertencer a mim mesmo. E porque não faço idéia se ela sentiria sequer uma fração disso.