domingo, 7 de dezembro de 2008

Disque 2 para dar choque

*ti-ring*

 Oi.
 ...
 Alô.
 ...
 Alô, desgraça! Mas que...
 *biiip* Alô!
 Ah, então.
 Com quem eu falo?
 Michel.
 Ah, aqui é a Michele!
 ... ? [Pausa para treinar minha expressão de "E DAÍ, mulher?"]
 Você é o responsável?
 Não sou responsável, não.
 Hmm... e a Ana, quem é?
 Minha irmã.
 Ah, posso falar com ela?
 Sobre o que é, mesmo?
 Eu estou ligando para falar do Jornal Blá.
 Foi você quem ligou há pouco? A ligação caiu.
 Não fui eu não, senhor, eu não liguei antes.
 É que alguém ligou de um jornal, achei que...
 Não ninguém ligou eu nunca liguei para esse número tchau.
 ??? Ei, volta aq...

*tu-tu-tu...*

•   •   •

Ainda não sei bem o que eu disse de especial, mas é quase certo que acabei usando sem querer algum código secreto espanta-telemarketing. Por favor, alguém me ajude a descobrir o que é.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

(não peçam explicações, não sei o que foi isso, são 3 da manhã)

Estava lá, minha amiga, com roupa de ficar em casa, cara de cansada do mundo. "É impossível me amar, é isso?" A pergunta ecoava na cozinha. Ecoaria em qualquer outro cômodo — como, aliás, acontecia freqüentemente. Soava o tempo todo na sua cabeça. "Pára, não é assim, não tem isso. Esse amor que vendem por aí dura só 30 minutos, ninguém vai te amar 24 horas por dia. Nem sei porque você ia querer isso."

Inútil responder emoção com lógica, uma resposta dessas nunca satisfaz. Então me estiquei da cadeira, com cuidado para não derrubar nada da mesa — até porque eu já estava olhando por alguns minutos, calculando a melhor posíção. Me estiquei e lhe dei um beijo, quase distraído, tão natural quanto inédito. E voltei pro meu lugar com uma completa cara-de-pau, aquela que requer anos de treinamento para sair perdoável. (Ainda funciona.) Ela ficou parada, talvez decidindo ainda qual sorriso usar.

•   •   •

— O que foi isso? Como eu nunca soube disso? Você... me ama?

— Eu sinto esse carinho que sempre senti. Tenho que dar nome? Como as pessoas sabem que estão sentindo a mesma coisa quando dão o mesmo nome?

— Então me explica o que você sente.

— Complicado. Faz assim: pergunta o que eu faria ou não por você e te respondo.

— Você casaria comigo?

— Dica: comece com perguntas fáceis.

— Então... você namoraria comigo?

— Ah, isso sim. E se puser uma roupa bonita, até levo pra sair.

— Você me daria outro beijo?

Era agora, the real deal. Não tinha elemento surpresa. Tinha era a expectativa do primeiro, maldito. Esse era para ser a tradução de sentimento acumulados há anos. Tarefa impossível, vá, mas enquanto tivesse chances, ia tentar até conseguir. Puxei pela mão para que ficasse de pé. Solene era melhor. Tinha que ter mão no cabelo, tocar do jeito certo, respirar no mesmo ritmo; não era hora de economizar nada. Foi beijo e depois abraço, os dois demorados.

— É esse, bem esse. É o que estava esperando. É o abraço que quero pra sempre. É o beijo que falou sem precisar de palavras.

— Eu não acho, foi pensado. Foi estudado para agradar, para convencer. É ilusório. A coisa real vai vir algum dia e passar despercebida, de tão real.

— ...

— ...

— Só vai durar 30 minutos?

— 24 horas, não garanto. Vamos ter que negociar um dia por vez.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Verso reverso

Fiquei aqui imaginando se o slogan clássico da Tostines seria aprovado hoje em dia. Afinal, você tem que associar ao produto apenas características positivas. Vender mais por ser fresquinho é bom, mas o slogan não afirma isso. Aliás, ele está em dúvida se é isso mesmo ou se Tostines é fresquinho porque vende mais. No segundo caso, o biscoito não tem mérito nenhum, só é fresquinho se for vendido rápido. É provável até que os concorrentes fossem tão bons quanto se vendessem mais. Quase um "Olá! Compre Tostines, ele é completamente normal! Não compre outros biscoitos ou eles vão ficar melhores que o nosso!" Certeza que uma campanha dessa não seria aprovada em 2008, não passaria nem do brainstorm. Onde já se viu, colocar perguntas na cabeça dos consumidores?

Esta é uma nota de dois reais que recebi de troco na padaria.
Não tem relação nenhuma com o texto.

Isso me lembra dos comentários sobre o último debate Obama vs McCain. Andam dizendo que o primeiro está se comportando e falando de forma muito mais "presidencial". Mas ele não é o candidato da renovação? Ele não deveria propor um curso de ação diferente do que os presidentes têm seguido? Pode ser um erro no meu circuito lógico, mas parece uma situação onde menos (presidencial) é mais.

(Se bem que o pessoal lá de cima tem uma idéia peculiar sobre presidentes. No primeiro debate, McCain perguntou quantas brigadas o oponente enviaria ao Afeganistão. Assim, pedindo um número. E pior, Obama respondeu: duas, que se somariam as tropas que já estão no Iraque. E desde quando um presidente tem que saber isso? Os generais deles servem pra quê?)

Mas me diz o que Tostines tem a ver com Obama. (Quando me veio à cabeça, havia toda uma cadeia de intermediários ligando um ao outro. Agora, só lembro das pontas.)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Deus e o diabo na tabela periódica

Não quero me gabar nem deixar ninguém com inveja, mas acabo de perceber que tenho uma questão existencial a menos para responder. Eu sei qual é a minha missão na Terra: descobrir qual é a escova de dentes mais abominável já criada pelo homem. Ou isso ou meus ancestrais invadiram muitas tumbas egípcias; de qualquer forma, o destino tem posto em meu caminho escovas cada vez piores. Não importa quanto tempo eu passe olhando, analisando, medindo, tentando lembrar detalhes infames dos modelos anteriores: a nova sempre consegue bater recordes de decepção com algum detalhe inédito.

Tomemos como exemplo minha última aquisição. Ela é simpática, não tem aqueles montes de firulas para massagear a gengiva ou cinco níveis diferentes de cerdas (elas são cortadas em uma ligeira curva e só). O problema mesmo é o corpo da danada, feito de um material translúcido que, vendo na embalagem, você pensa "deve ser flexível e macio" e nem dá muita bola. Eis que o tal material é um polímero maldito, duro como acrílico, que não consigo conceber que tenha sido testado em humanos vivos. É como escovar os dentes com um pedaço indestrutível de pé-de-moleque. Feito com areia em vez de açúcar. Mesmo depois de pensar bastante, consigo listar poucos materiais que seriam mais inadequados à função:

· madeira
· cobre
· queijo
· urina
· soda cáustica

Não satisfeitos em criar um objeto apenas repulsivo, os responsáveis resolveram torná-lo extremamente odioso ao incluir um "limpador de língua": várias saliências feitas do mesmo material. Assim, enquanto você escova os dentes de cima, pode alegremente lixar os de baixo.

Mas tudo bem. Se for mesmo a minha missão, acho que não é das piores. Talvez eu até consiga encontrar um enxaguante bucal sabor cebola para acompanhar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Banana pra todo mundo

Ontem comi uma maçã. É um evento tão incomum que eu costumo alardear. Antes dessa, comi uma em... 18 de Junho. A data está registrada aqui porque fiz questão de contar pra V. Isso dá uma média de 0,01 maçã por dia — um pouco abaixo da minha meta de uma por dia. (Olha, a mesma meta de atualização do blog! Mas até funcionou malemá por alguns meses, vai... de 2004.)

Só sei que precisei de uma maçã ontem porque o organismo estava clamando. Meu estômago chamou de lado e disse "Olha, vou te dizer na boa, mas leva a sério: maçã. Agora. Aproveita que sou eu quem está pedindo, porque você sabe que sou civilizado e aceito muita coisa sem chiar. Mas se o intestino tiver que subir até aí, te prepara que a coisa vai feder. Não queira ver o intestino irritado!" Ele não falou exatamente com essas palavras, mas bateu uma necessidade visceral de comer maçã. Pois não dizem que os desejos das grávidas são uma artimanha do organismo para conseguir o que está em falta? Como se ele estivesse pedindo os nutrientes necessários para montar o bebê? Quer dizer, me disseram, eu acreditei. Não estou montando bebê nenhum, mas gosto de imaginar que tem uma glândula — pode até ser a pineal, vai saber? — em algum lugar calculando e controlando o que eu preciso comer. Algo como "Acabou o potássio? Peraí que vou deixar esse animal com vontade de comer banana já já!"

Como estou abusando na alimentação há meses, resolvi ficar perambulando pelo mercado para ver se alguma coisa saltava à vista da glandulazinha. Não que haja muitas opções: no último levantamento realizado, concluímos que apenas 4 vegetais não me são nocivos. Maçã, batata... hmm... orégano... e, e... que mais? Ah é: "iogurte com polpa de fruta" foi incluído também, pra fazer volume. A lista poderia ter cinco itens, mas tenho encontrado muita resistência na comunidade científica para classificar o pão como vegetal. (É feito de cereais, ora!) Ainda assim, fiquei lá passeando pra ver se a pineal soava algum alarme.

Infelizmente, nunca saberemos se ela tentou me dizer alguma coisa: acabei distraído pelo Chandelle*.

* Mas sem essa história de sobremesa cremosa: Chandelle conta como iogurte, né? Logo, vegetal.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Roots Rock Riot (Skindred, 2007)

Compor músicas mesclando melodias de reggae, bases de metal, andamento punk rock e elementos de hip-hop soa criminoso, certamente. Mas o crime é perfeito.

O problema do primeiro álbum do Skindred é que ele irretocável. Fica claro que os caras penaram até conseguir juntar tantos gêneros musicais em faixas que funcionam tão bem. Depois de um trabalho tão bem feito, o que você faz no álbum seguinte? Como se superar?

Roots Rock Riot me decepcionou no começo por soar muito aquém de Babylon (2002). Tudo parecia muito mais simples — e perigosamente próximo do hardcore. Não restou quase nada do hip-hop e o reggae ficou restrito à performance vocal.

Acabei deixando o álbum de lado, mas creio que ele esteve cozinhando no meu subconsciente e voltou para me assombrar há algumas semanas. E só então as coisas clicaram: depois de fazer algo insuperável, a banda resolveu desfazer tudo e inventar algo novo.

Vez ou outra me pego cantando State of Emergency, todo dia. Não exatamente cantando a letra; perceba que a música já começa com o vocalista e ele não pára um segundo. Não tem pausa para solo, nada. Letra do início ao fim. (Some a isso o sotaque semi-compreensível e a dificuldade para cantar junto assume ares olímpicos. Mas vá lá: ao menos, a melodia é fácil.)

Cause Ah Riot causa vontade automática de pular, deve ser lindo tocar isso num show. Mesmo com o hardcore mostrando sua cara feia. RatRace e Alright também têm seu charme, mas você não vai aproveitar muito do álbum se não tiver gostado dessas duas:

sábado, 6 de setembro de 2008

Rindo de chorar

Evidências anteriores já confirmavam que as pessoas da minha família desenvolvem hábitos estranhos desde cedo. Só nesta semana, descobri que meu sobrinho (agora com 1,5 anos) gosta de café preto e de brincar de descascar cebolas.


Minha irmã disse que ele geralmente só tira uma ou duas camadas de casca e devolve. Nos distraímos conversando e, alguns minutos depois, ouvimos um "Mamã!" angustiado. Lá estavam vários nacos de cebola no chão e o Teteu cheio de lágrimas, entregando a hortaliça esquartejada com uma expressão de "Essa aqui está com defeito, pode ficar pra você". E ainda achou a maior graça, se acabava de rir enquanto minha irmã lavava o rosto dele.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Parece piada

Hoje está ventando muito. Vi uma placa na rua, dessas que ensinam o caminho das coisas, ensinando coisas para a rua errada. Até pensei alto: "Ei, como é que um vento que vira um negócio desses não está me carregando? Mesmo sendo visivelmente mais magro que o mastro da placa e com essas sacolas infláveis nas mãos?"

Foi instantâneo. Mais ou menos como a piada da vaca não voa / vaca não fala.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Questão de Gosto 3: Discutir por Gosto

Eu adoro discussão. Não animosidade — não gosto de cabeças quentes, troca de farpas, nem nada disso. Gosto de argumentar, debater, esgotar assuntos, explorar pontos de vista, imaginar o inexistente, teorizar o complexo, vasculhar os segredos. Talvez pela minha educação: cresci com gente me dizendo que havia uma única resposta certa para cada pergunta. Quando você percebe que não há verdade absoluta e que cada assunto esconde inúmeras possibilidades, é difícil esquecer e voltar ao mundo seguro dos conceitos prontos. No mínimo, eu quero conhecer e entender qual foi a resposta certa que ensinaram às outras pessoas.

Não sei dizer se vale a pena discutir comigo. Através de tentativa e erro, vou anotando de cabeça quem tolera argumentações longas e quem se irrita fácil com elas. Ou seja: no pior dos casos, ao menos estou tentando oferecer um serviço personalizado. Por mim, poderia continuar as discussões indefinidamente, mas as outras pessoas têm essas manias fúteis — como tomar banho ou comer ou dormir —, o que atrapalha um pouco.

Não gosto de assuntos intocáveis. Passei muito tempo sem discutir religião por medo, sem discutir política por comodismo e sem discutir cultura por ignorância. (Na verdade, acho que todas as razões acabam se resumindo a medo, de um jeito ou de outro.) Para recuperar o tempo perdido, nada pode ser sagrado — principalmente religião. Mas estou ciente que as discussões que começam com uma ofensa não são muito produtivas.

Até hoje, só encontrei uma forma de me aquietar com um assunto: ouvir o interlocutor dizer "Eu gosto" (ou "Não gosto"). Se você deixar alguma brecha lógica, eu vou querer explorar. Não importa se alguém realmente acredita que comer chocolate é errado "Porque não é natural" ou "Porque deus não quer" ou "Porque é crime" ou "Porque o Bruce Willis não come". Tudo isso dá margem à interpretação ou manipulação. Tudo isso significa que alguém está decidindo por você, não é realmente o seu ponto de vista. A única resposta que me satisfaz ao ponto de encerrar o assunto é: "Eu não como chocolate porque não gosto". É a resposta que me permite continuar cultivando a idéia de que não existe verdade absoluta (que é a minha resposta certa). É o jeito mais inequívoco de admitir que qualquer outra desculpa não importa, pois é apenas uma desculpa.

Se você gosta de chocolate, mas não come porque a Bíblia diz que é pecado, você ainda está agindo de acordo com seu gosto. Não há como abraçar uma religião sem gostar que alguém tome decisões por você, sem gostar da sensação de segurança que as respostas únicas lhe dão. Se você não come chocolate porque gosta da sua religião, fico igualmente satisfeito com a resposta. Você ainda está admitindo que faz as coisas ou deixa de fazer porque gosta, e não porque é "lógico" ou "certo".

E preciso, afinal, ceder à alguma convenção: gosto não se discute.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Questão de Gosto 2: Preconceito?

The Dark Knight é realmente tudo que andaram dizendo. (É, só vi nesta semana.) Minha parte favorita é que o roteiro não presume que você seja um idiota, uma grata surpresa que está virando regras nas adaptações de quadrinhos. E é um alívio ver essa abordagem em um filme do Batman, que muita gente teima em entender como personagem infantil. Metade das sessões de cinema das redondezas com a versão dublada... pára! Que criança assiste duas horas e meia de um história tão sombria? Também não entendi a escolha do trailer que passou antes, de um filme brasileiro que não lembro o nome. (Algo envolvendo um amor impossível entre uma menina rica e um guri da favela. Originalidade garantida.) Mas o que realmente me deixou pensando no meio disso tudo foi uma frase que meu amigo soltou em reação ao trailer.

Esse amigo funciona assim: é difícil não gostar dele, você precisa se esforçar. Qualquer pessoa que o conheça por mais de duas semanas percebe que ele é sobrenaturalmente honesto em tudo que faz e diz. Sério, só vendo; duvido que vocês estejam imaginando direito. Eu automaticamente sorrio por dentro quando ele começa uma frase com "Olha, vou ser sincero com você..." porque não acredito que ele consiga não ser sincero. Até onde sei, ele tem milhares de amigos e sempre encontra um quando andamos mais de cinco minutos pelo bairro — ou seja: provavelmente vale a pena ser do jeito que ele é.

Enfim, ele disse o seguinte: "Olha, vou ser sincero com você... sou preconceituoso mesmo, não gosto de filme nacional." Já vinha pensando há um bom tempo sobre esse tipo de coisa, o que é preconceito e o que chamam de preconceito, e não gostar de uma coisa não pode ser preconceito. (Tudo bem que ele não tinha assistido ao filme e já estava decidido a não ver, já supondo que segue o formato padrão dos filmes nacionais. E provavelmente segue mesmo.) O ponto é que ele estava quase se desculpando por não gostar dos filmes nacionais que já havia assistido, e presumir que não gostará dos que virão. Mas acho que gostar e desgostar são as coisas mais honestas que as pessoas podem fazer, é o modo como você se expõe e mostra aos outros quem é.

Algo que estava pensando há muito mais tempo: o que realmente define quem você é? Muito já se gastou em papel e palavras para definir o que você não é.
Você não é o que você tem.
Bens materiais vem e vão, não melhoram nem pioram ninguém por si — até dizem bastante sobre o dono atual, mas nem sempre o que ele espera que digam.
Você não é o que você faz.
Uma profissão é um adestramento, é enfiar uma pessoa por um daqueles brinquedos com um buraco quadrado, um redondo e um triangular — trate de se contorcer para passar por um deles. Dado estatístico recém-inventado: 9 a cada 10 pessoas são menos do que poderiam ser porque estão muito preocupadas em fazer o que lhes dizem que deveriam fazer.
Você não é o que você pensa.
Ou o que você pensa que pensa. Você é um animal, tem instintos, reações condicionadas. Pare e preste atenção em quantas coisas você faz automaticamente. Ou você pensa e analisa TUDO que faz durante o dia? Duvido que o sistema educacional, as propagandas e o jornalismo te dêem essa chance. E provavelmente já saiu do berço com religião, partido político e time de futebol escolhidos pelos pais. Você pode mudar o que pensa, essa é a parte boa; mas desculpe, não há como começar do zero, repensar tudo imparcialmente, definir um código moral todinho seu. Aceite que alguns dos seus pensamentos não são seus, porque não são eles que te definem.

Não concorda? Prefiro assim, a viagem só precisa fazer sentido para mim. Naturalmente, não cheguei a nada conclusivo, mas acho que a resposta está naquela parte animal, instintiva, que o adestramento não consegue alcançar. É uma afirmação bastante estranha, porque o instinto é o que faz com que um cachorro se comporte como todos os demais cachorros (balançando o rabo, levantando a perna, andando em círculos). Impedindo que você pense. Reação automática, mas emocional: gosto ou não gosto. Claro que gosto pode ser condicionado pela cultura. Você provavelmente não gosta de comer cachorros, mas eles são apreciados em várias partes do mundo. Nada impede que um chinês ou coreano não goste de comer cachorros também. Isso (e todos os outros gostos e desgostos) os tornam indivíduos. Há gente comendo gente em todo lugar, e o canibalismo não é lá tão aceito culturalmente, muito menos incentivado.

[Que exemplo terrível. Melhor parar de falar de comida.]

O que estou tentando dizer é que aquilo que gostamos ou não é o que nos diferencia, nos determina, mesmo que não possamos escolher essas coisas diretamente. Aliás, justamente porque não podemos escolher. Se as pessoas pudessem controlar com tanta facilidade quem elas são, provavelmente não teríamos tantos problemas no mundo. E provavelmente não teríamos tantos indivíduos, pois seria muito mais cômodo escolher ser igual a todo mundo. Se não fosse o gostar ou não gostar, o que levaria alguém a se levantar contra as regras?

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Questão de Gosto 1: Imagine

Continuo odiando Beatles ou John Lennon ou qualquer coisa desse balaio. E continuo defendendo que meu ódio não é pelas músicas, mas pelo modo como as tocavam — essa coisa "Nós somos felizes, nós somos fadas, o mundo é lindo" —, porque não soa como alegria incontida e contagiante, mas como alegria enlatada, conformada. "Estamos todos comendo merda, não é ótimo?" Não tem nada a ver com as letras, estou falando do modo como as músicas soam. Aliás, não tenho que justificar nada: eu não gosto.

Mas sou completamente capaz de apreciar essas mesmas músicas quando interpretadas por gente que eu não odeie, vide versão abaixo:


A Perfect Circle, eMOTIVe (2004): Imagine

Há quem diga que a canção foi desfigurada e que o clima não tem nada a ver com a letra, mas acho que está justamente aí a graça. Tirando uma ou outra palavra-chave (peace1, dreamer, sharing2), a letra é quase apocalíptica, como se narrasse o resultado de uma guerra que devastou o mundo inteiro. "Imagine que não há Paraíso... nem Inferno... acima, apenas o céu... pessoas vivendo apenas pelo presente. Imagine que não há nações... ninguém para matar ou por quem morrer... nenhuma religião."

1 Lembrando daquela idéia de que o homem só encontra paz verdadeira no túmulo.

2 Lembrando que "sharing" é eufemismo para pirataria, um dos piores tipos de crime já inventados na história. Foi o que o Metallica disse.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Problema seu

Não sei pedir ajuda. Se um problema aparece, eu me viro. Fui criado assim.

Quando era molequinho, nunca havia dinheiro sobrando para nada. Nunca tive brinquedos legais. E não ajudava nada que meus amigos tivessem brinquedos legais. Eu podia brincar, mas não eram meus. (E não ia pedir que me emprestassem, eram deles por algum motivo. Provavelmente era eu quem estava fazendo algo errado para acabar sem brinquedos legais.) Mas era um molequinho e, com ou sem brinquedos legais, eu tinha que brincar. E improvisar. Muito. Qualquer coisa desmontável era rearranjada na marra com partes de outras coisas desmontáveis. Se algum objeto parecesse vagamente com uma espaçonave (e havia um aposento cheio delas: ferramentas, acessórios, peças, tesouros), blim! Brinquedo. Frasco engraçado? Brinquedo. Carrinho velho quebrou? Dois brinquedos novos. Muito do meu entusiasmo por engenharia, física, encaixes, relações, estruturas, moléculas e tudo mais, trago dessa época. Por necessidade. Eu lia muito para entender como as coisas funcionavam. Qualquer coisa. (Viu? Eu tinha livros, não era de todo ruim. Seja qual for o dano irreversível que a falta de brinquedos legais na infância possa causar à psique humana, livros devem compensar pelo menos um pouquinho. De fato, não estou reclamando, não acabei tão estragado assim. Digo, por favor: eu sou totalmente capaz de fingir que sou normal.)

Também não havia lá muito dinheiro sobrando para médicos, então era sempre boa idéia evitar doenças e fraturas. Até hoje, sempre que aparece uma dor nova, minha providência imediata é esperar pacientemente até que desapareça. Não apenas pelo custo das consultas; vários diagnósticos longe de corretos durante a infância não contribuíram muito para minha confiança em médicos. [Esqueci de dizer: meu pai tinha dois escorpiões conservados dentro de um vidro, e era tão legal porque ninguém mais tinha. Mas eu não podia brincar com eles.] Nem comecem a dizer que isso é perigoso e que eu posso estar criando um aneurisma ou algo assim sem saber. Você não vê ninjas ou piratas andando poraí se preocupando com aneurismas; eles conseguiram se virar muito bem até hoje, com vidas longas e saudáveis. Ou morrendo de forma rápida e violenta — qualquer uma das duas opções está ótimo pra mim.

Mas não é nada disso que eu quero dizer. De certa forma, estou enrolando vocês por dois parágrafos. O que realmente quero dizer é: não sei pedir ajuda. [Ah, ótimo, o mesmo que já falou no começo; com este, são três parágrafos de enrolação.]

Minha cabeça está programada assim: se um problema aparece, resolva sozinho; se não conseguir, enterre. Mas nem tudo dá para enterrar ou abafar, e só comecei a perceber isso quando deixei de pensar como criança (ou seja, uns dois anos atrás). Talvez, se eu precisar de alguma coisa, possa simplesmente pedir ajuda a alguém. É um conceito muito novo e fascinante, devo dizer. Se realmente funcionar, há boas chances de que esse sistema resolva vários problemas da humanidade. Como quando as pessoas não conseguem fazer as coisas sozinhas.

Mas como se faz? Como se pede ajuda? Sempre que eu tento, as pessoas não levam muito a sério. Talvez esteja esquecendo alguma parte importante. Tenho que dizer uma senha? Usar algum sinal especial? Achei que bastava dizer "Olá, tem uma coisa me incomodando, sabe, provavelmente este tubarão mordendo o meu pé", mas não tem funcionado. Em todo caso, estou quase certo que "rs" seguido de "ei, já viu isso aqui? [link]" significa realmente "Vire-se". (Cara a cara ou por telefone, as pessoas não costumam rir ou recorrer aos links, mas acabam dizendo algo com o mesmo efeito.) Certamente tenho várias manias estranhas, mas achei que era padrão tentar ajudar as pessoas com seus problemas. Ao menos, ouvir sobre eles. Talvez não seja óbvio que algo banal para uns seja um obstáculo para outros. Ou, talvez, essa história de pedir ajuda seja mais uma coisa que você tem que aprender a viver sem.

Pois prestem atenção: se algum dia estiverem perdidos em uma ilha deserta sem brinquedos legais, VIREM-SE. Eu que não vou ajudar vocês.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pensamento do dia

"Deus quis que eu fosse ateu. Quem é você para duvidar da sabedoria dele?"

(Autor: Internet)

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Something WICKED

Longe de mim afirmar que o tio Bruce sabe o que está fazendo, sou apenas um fanboy. Confesso até que o trailer de Chemical Wedding não me inspirou muita confiança, mas as cabeças por trás do filme no mínimo despertam curiosidade. Bruce Dickinson (ou Deus, para quem ainda não foi apresentado) escreveu o roteiro em parceria com Julian Doyle (que também dirige). Não estou muito familiarizado com esse Doyle, mas as lendas afirmam que ele trabalhou com Monty Python — inclusive, tem o dedo de Terry Jones e a participação especial de alguns pythons na história.

A trilha sonora foi escolhida a dedo pelo mestre e conta com clássicos do Maiden e da carreira solo, entre outras coisas. (Sem muita surpresa, percebe-se que a música Chemical Wedding também está presente.) E o melhor de tudo é: está pronto! Eis a parte boa de saber das coisas com atraso. A première vai ser no próximo 4 de Maio.

E eu só descobri tudo isso porque queria saber como diabos era a capa do single Back from the Edge. [Que ainda não sei como é.]

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bunda. Suja.

Finalmente uma empresa percebe que o mais importante na interação com os clientes é permitir que se expressem como indivíduos e façam bobagens.

Clicar amplia, mas não vale muito a pena.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

NÃO quer dizer NÃO

Balneário Camboriú é uma cidade simpática. Tem essa história de ter um alto Índice de Desenvolvimento e tudo mais. No fim das contas, é muito parecida com Floripa: hiberna fora da temporada, o trânsito é horroroso* e todo mundo vai para o shopping quando chove.

As padarias são imperdoáveis: testei umas seis e todas rodaram. As ruas nos bastidores têm cara de bastidores; depois de perambular uns dez minutos, você já está acostumado a ver construções em andamento por todo lado. Mas a imagem da cidade que sempre guardarei no coração é esta:

Foto bonita de celular!

Muito tocante o drama do proprietário. Acuado pelas ameaçadoras propostas de aluguel, viu-se obrigado a cimentar as entradas e levantar uma barricada de escombros em frente à casa. E ainda precisou pendurar a faixa para afastar os mais insistentes.

* Se bem que, em Floripa, o trânsito é apenas estranho: ninguém sabe dirigir e se embanana por qualquer coisa. Já o de Balneário achei horroroso, porque os semáforos parecem irrelevantes e os pedestres, invisíveis.

domingo, 23 de março de 2008

O verdadeiro sentido das coisas


Lembremos pois do zumbi cósmico do oriente médio, repleto de super-poderes, pai de si mesmo, de quem se pode adquirir imortalidade ao comer sua carne. Aceite-o como seu mestre para que ele remova de sua alma a força maligna herdada pela humanidade de uma costela em forma de mulher que seguiu o conselho de uma serpente falante para comer o fruto de uma árvore mágica. (Fonte: Internet)

Assista o trailer.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Por falta de sono

Quando um bebê chora, os pais vão logo acudir. Como bebês não sabem fazer muita coisa sozinhos, eles choram a todo momento: quando estão tortos, ou sujos; quando alguma coisa dói, ou assusta. Creio que quando estão entediados, também. Afinal, funciona: choram quando acordam no meio da noite, mesmo que nada esteja errado, mesmo que não precisem que os pais façam nada por eles. Choram porque a vida de um bebê é insuportavelmente vazia sem ninguém lhes dando atenção. É isso, ou sou insensível, louco? Bebês choram por atenção, e continuam chorando porque continuam recebendo. Quando páram de chorar? Quando suas vidas deixam de ser insuportavelmente vazias? Quando deixam de precisar da atenção de outra pessoa para suportar a si mesmos? (Ou a busca de outra pessoa é justamente para esquecer de si mesmos?) Será que, se um bebê / criança / adolescente / adulto crescer sem essa garantia de atenção constante, vai virar uma pessoa carente? Ou vai justamente aprender a aceitar a si próprio e a ser independente? A sentir-se bem, mesmo sozinho?

Um episódio de Mad About You falava disso. Um episódio inteiro com Jamie e Paul sentados em frente à porta do quarto da filha. A idéia é que ela choraria, um deles entraria brevemente no quarto para dizer "Estamos aqui, não se preocupe", garantir que ela não precisava de nada e sair em um minuto. Isso acostumaria a filha com a idéia de que não poderia contar sempre com eles para tudo. Descrevendo assim, parece um episódio ridiculamente chato, mas é legal. Para quem gosta de Mad About You. (Não sei porque estou falando de Mad About you; deve ser o horário.)

Ainda sobre seriados, hoje assisti...

... Lil' Bush (Sony Entertainment Television) e achei decepcionante. O humor deixa a desejar; é insano, escrachado, mas gratuito e, em vários sentidos, óbvio. O que realmente me incomodou é que não é exatamente crítico. Ele mostra o Bush demonstrando todas as idéias típicas dos conservadores yankees (gays são inaceitáveis, mexicanos servem para fazer o trabalho sujo, guerra é legal etc.) Liberais assistem e dizem "É isso mesmo, conservadores são assim!"; conservadores assistem e dizem "É isso mesmo, é assim que tem que ser, bate no mexicano!" Do ponto de vista mercadológico, é uma ótima estratégia, pois entretém a todos. E não faz ninguém pensar.

... Sarah Silverman Program (Sony Entertainment Television) e virei fã no mesmo instante. E me contradigo sem pudor, porque o episódio (em que Sarah se convence que é HIV positiva e inicia uma campanha de conscientização sobre a Aids — que acaba virando uma grande campanha de promoção pessoal) não vai a lugar algum, não diz nada com nada. E é lindo. O personagem dela é odioso e adorável. E pensar que eu não queria de jeito nenhum assistir, por conta do comercial medonho. ["Hey, same car!", "Bluh! Blublubluh! Bluh-BLUH!"]

... The Daily Show (Sony Entertainment Television), como tenho feito todas as terças. E ri de modo incontido, como tenho feito todas as terças. Se, de alguma forma, o Michel de 12 anos atrás encontrasse uma máquina do tempo e pudesse comprovar que o Michel de agora não apenas se diverte com um programa sobre a situação política dos EUA como aguarda ansioso pelo próximo episódio... que mundo cruel. Que decepção. Pobre Michel de 12 anos atrás.

terça-feira, 18 de março de 2008

Papa papa tudo

No cursinho pré-vestibular, o professor de História explicou a invenção dos pecados capitais mais ou menos assim:

Pouco depois do fim do feudalismo, o papa foi dar uma volta no jardim, tropeçou e caiu. Quando foi ver em que tinha tropeçado, encontrou uma maçaneta, que estava presa em um alçapão. Na grama. Ele abriu, meio receoso, espiou o que tinha dentro, fechou rapidinho e sentou em cima. Um cardeal achou estranho e foi ver o que estava acontecendo. O papa pediu que se aproximasse e sussurrou: "Eu achei um negócio... e acho que é um purgatório". Estava vazio e limpinho, parecia nunca ter sido usado. Como não dizia nada na Bíblia sobre purgatório, o papa teve que inventar uma utilidade para ele. Primeiro, escolheu sete coisas que a burguesia (um bando de novos-ricos em ascensão) não vivia sem: vaidade, luxúria, gula, avareza, preguiça, ira e inveja. Em seguida, determinou que toda vez que cometesse um desses pecados, você deveria pagar por uma carta de indulgência (para mostrar que estava arrependido; se quisesse, poderia até pendurar na parede) e cumprir pena no purgatório depois. Ou isso, ou Inferno.

Parece bobo, mas aconteceu algo parecido há pouco tempo: o Bento acordou para tomar café e foi ler o jornal. Ele viu uma notícia e exclamou: "Mas isso é um pecado! E isso também... e isso aqui também!" Chamou o secretário e pediu para anotar e espalhar por aí a nova lista de pecados capitais, revista e atualizada:

1 · Fazer modificação genética
2 · Poluir o meio ambiente
3 · Causar injustiça social
4 · Causar pobreza
5 · Tornar-se extremamente rico
6 · Usar drogas

Fico imaginando se o papa não cometeu o sexto da lista antes de ter essa idéia. Bento, vem cá: "fazer modificação genética"? Não sei como anda a Itália, mas tu achas realmente que os católicos fazem isso com freqüência? Reformulando: quantos católicos são cientistas, quantos cientistas são católicos? Ah sim, a idéia é a conivência com essa práticas. Se eu, por azar, morar em um planeta onde exista poluição ou injustiça social, sou claramente pecador e só a Santa Igreja pode me salvar. Pula essa parte onde a gente tenta encontrar o sentido e diz logo de quanto é a conta.

"Tornar-se extremamente rico"... adorei o emprego do extremamente para isentar o próprio papa, que não vive lá uma vida de pobreza. Quem planeja tornar-se extremamente rico, fique avisado desde já: existem outras igrejas que vêem a riqueza como recompensa divina por estar fazendo um bom trabalho na Terra. Não sei bem qual é o plano do Bento, mas não acho que as novas regras vão tornar o clube dele mais popular.

Lindo mesmo achei o trecho final da entrevista concedida ao Osservatore Romano, o jornal do papa, sobre como fazer para garantir o perdão: "Confissão em 15 ou máximo 20 dias antes ou depois de cometer o pecado". Antes? Pecado programado? Ah, finalmente, um sinal de modernidade. Só ficou faltando o serviço de confissão online.

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Update (2008ano 03mês 18dia 23h 51min):

Fui perguntar direto a Deus e parece que não foi bem assim. Para que não digam que é perseguição minha, eis o link para uma réplica de que ninguém do Vaticano falou nada sobre os pecados serem "capitais" e que isso ficou por conta da imprensa. AINDA ASSIM, pecar retroativamente / por "cumplicidade" / por ter governantes corruptos em quem você não votou / por osmose continua sendo uma idéia cretina.

[Será que fumante passivo entra na dança por estar consumindo drogas? Bom, quem liga?, eu vou pro Valhalla.]

domingo, 16 de março de 2008

For those about to rock

Mais uma vez, me encantando com alguma peripécia online. Pandora foi pro saco, só funciona no Brasil com proxy. (Ninguém quer nem saber o que é "proxy", quanto mais usar...) MP3tunes serviu de quebra-galho, como alternativa às rádios online, mas é um serviço truncado (e você gasta tanto tempo abastecendo quanto passa ouvindo). Streampad é simpático e até prático, mas tão incerto quanto sair caçando rádios anônimas por aí.

Enquanto não encontro uma solução para ouvir o que eu quiser onde quer que esteja*, brincarei com o Singing Box. Essa caixinha ali do lado é uma das aparências possíveis; cliquem, testem, digam se funciona para vocês. (Demora a carregar as músicas? Talvez eu deva diminuir a qualidade. Não gostou de nenhuma? Culpe o meu gosto, não há nada mais que eu possa fazer.)

Até encontrar os problemas que inevitavelmente surgirão, estou hospedando as músicas no MediaMax – o Singing Box aceita qualquer lugar que ofereça um link permanente para download (shame on you, 4shared). Mas ele não guarda nada, só organiza a lista e toca.

Se alguém conhece uma solução melhor para fazer o mesmo, levante a mão.

* E tenha um computador. E acesso à Internet. E um chefe compreensivo.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A galinhagem desvendada

A Sociobiologia está errada. Esqueça essa história de que "espermatozóides são baratos, óvulos são caros". Tudo bem: correm rumores de que os homens... como dizer... são mais displicentes do que as mulheres no tocante à fidelidade conjugal; estão constantemente buscando novas parcerias e nunca concedem exclusividade. (Não estamos afirmando nada, são os boatos.) Mas qual seria a verdadeira razão disso? Sugiro começar culpando o Código de Conduta Masculino.

Favor não confundir com o Código de Honra Masculino (igualmente secular, universal e não-inventado-na-hora-para-fazer-graça), que determina como homens devem portar-se em relação a outros homens honrados. O Código de Conduta (que não precisa ser ensinado, vem escamoteado na carga cultural) estabelece o que um homem deve fazer para certificar-se de que é homem. Se você é mulher, pode estar achando tudo muito obscuro, pois provavelmente nunca conheceu pelo nome, mas é certo que já presenciou os efeitos práticos. Beber cerveja, assistir futebol, gostar de engenharia, fazer piadas chulas sobre funções corporais: bom. Chorar, ser vaidoso, dirigir mal, fazer coisas de mulher: condenável.

Não é necessário analisar muito para ver que a vida de um homem modelo (de acordo com o Código) é bastante vazia. Tudo que envolva sensibilidade demais, senso estético apurado, ambições que não sejam estritamente profissionais, povo / território / costumes franceses, etc. acaba caindo na categoria coisas de mulher. Restam aos homens (1) uma existência superficial e pouco gratificante por definição ou (2) vergonha e exílio da comunidade masculina.

No fundo, embora não pareça, os homens são boa gente. Eles têm boas intenções e sentimentos puros, mas a sociedade é muito opressiva. São indivíduos com desejos e angústias, e querem coisas como raspar as axilas, criar poodles ou saber combinar roupas, mas não podem assumir isso. Muitos simplesmente desistem e seguem o Código à risca, tornando-se seus maiores defensores (clássica reação "se eu não posso, ninguém mais pode").

Existe uma chance de preservar alguns desses "hábitos indesejáveis": declarar que usa creme hidratante, que é vegetariano, que não acompanha Fórmula 1 porque sua namorada / esposa / mãe (este último caso, movimento deveras ousado) determinou assim. Naturalmente, você passa a ser um homem de segunda classe, mandado, submisso, conformado – mas ainda homem, e com a desculpa para manter alguns prazeres secretos.

O que apenas uns poucos conseguem enxergar, porém, é que a receita para o crime perfeito é simples. Se você for um homem notório por suas conquistas amorosas e conseguir atribuir isso às visitas ao day spa ou ao seu conhecimento de arte moderna, o céu é o limite. Não apenas você será desculpado por essas pequenas concessões como será parabenizado e admirado pela descoberta. Quem diria que saber cozinhar um ótimo coq au vin serviria para pegar mulher? Outros homens tentarão e falharão, o que apenas reforçará a sua condição lendária, seu dom natural para atrair as fêmeas. É óbvio que não são essas coisas que conquistam as mulheres mas, enquanto você tiver a atenção delas (por outros meios; vire-se), desfrutará de imunidade às acusações masculinas de "estar se entregando à viadagens".

Assim, pedimos a compreensão das mulheres. A galinhagem é a única chance que os homens têm de explorar todas as nuances de sua alma e se livrar dos grilhões de uma sociedade machista, frustrante e cruel. O galinha pode ser quem ele quiser ser.

Bom, concordo que é meio cretino contrapôr machismo com egocentrismo. Eu não disse que era a solução perfeita. Se bem me lembro, até chamei de crime.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cabeças rolaram

Untitled 10, "thelondonpaper hijack".
Não deixem de assistir o vídeo no YouTube.

Mary Jane estava passeando com este link como mensagem pessoal do MSN e resolvi conferir. Quem diria que eu estava a um clique de distância de conhecer, afinal, o sentido da minha vida. The Decapitator é o meu novo herói. Se tem algo que valha a pena fazer, é isso. Nada de shows beneficentes ou ajudar velhinhas a atravessar a rua; o caminho para tornar o mundo melhor é decapitar pessoas.

Se você está com preguiça de ver as fotos e assistir ao vídeo, é o seguinte: o cara anda pelas ruas elegendo propagandas diversas para suas "intervenções". Creio que escolha as de maior visibilidade. Como quem não quer nada, ele escaneia o anúncio/cartaz original, leva para casa e photoshopeia uma bonita decapitação. Depois ele imprime e cola por cima do original, casando o fundo para que, de longe, você não perceba que há algo colado por cima. Infelizmente, em alguns casos, o papel colado acaba deixando transparecer o que está por baixo e o resultado não fica tão bom. Ainda assim, genial. Depois da intervenção, ele vai embora; outras pessoas passam, olham e não entendem nada.

Você também pode fazer em casa, veja como é fácil:

E então? O mundo já não parece melhor agora?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Vaca na linha

A GVT andou expandindo a cobertura do serviço aqui pela nossa área (NOSSA área, neguinho). A conseqüência mais enervante disso é que ligam toda semana no horário de almoço para oferecer uma linha telefônica. O que é lindo, realmente: usar um serviço do concorrente para oferecer o seu. Não há muitas oportunidades de se fazer isso de forma honesta, tiro o chapéu pelo empenho e cara-de-pau deles. Mas começa a perder a graça depois que ligam 7 ou 8 vezes, toda maldita semana. Todas as vezes resultando em nãos gradualmente mais enfáticos. E convenhamos, É UMA LINHA TELEFÔNICA! É a mesma bosta que nós já temos. E SERVE PARA USAR UM TELEFONE! QUEM NÃO ODEIA TELEFONES?!

Mas tanta caixa alta apareceu por outro motivo: na ligação de hoje, quando a criaturinha confessou que estava ligando para oferecer uma linha da GVT e eu – eufórico, porém polido – informei-a que "não, nunca vou querer, vocês já ligaram milhares de vezes e...", ela desligou na minha cara! A VACA! VAAAAACA! Eu queria ter um nível adicional de caixa alta para escrever isso. Pois não tem nem a decência de me deixar esculhambá-la de modo apropriado? Certamente tive vontade de retornar a ligação só para xingar a vaca, mas não consegui formular um xingamento profundo e dramático o bastante para expressar todos os meus sentimentos pela GVT e suas operadoras de telemarketing vacas.

Felizmente tenho uma semana para pensar em algo, já que certamente vão ligar mais uma vez. Aceito sugestões.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd (2007)

Eis um filme estranho. Claro, com Tim Burton dirigindo, isso é meio óbvio... mas mesmo assim. Tim Burton é um maluco estranho: não maluco no mau sentido, mas também não no bom. Creio que ele tenha inaugurado um sentido médio para o termo. Não me empolga muito esse tipo de malucos, mas Johnny Depp no papel principal confere a credibilidade mínima para me fazer arriscar e assistir.

Como nunca resisto, fui antes ler algumas resenhas e opiniões gerais sobre o filme. Tudo muito bonito, críticos lambendo tudo e todos... exceto pelo autor de um blog desconhecido apontado pelo Google. Eu acabo me identificando com opiniões de autores de blogs desconhecidos, principalmente se o layout for generoso com o laranja. Não era o caso, mas confirmei alguns fatos lá apontados:

1) Johnny é um ótimo ator, está no auge e tem boa desenvoltura em personagens de diversos sabores. Mas não é um cantor notável. Até li em algum lugar alguém elogiando o desempenho dele. Devaneio, essa pessoa estava drogada. Não é ruim, mas tão limitado e pouco inspirado que os instrumentos freqüentemente se sobressaem e escondem sua voz nos pontos mais dramáticos do texto. E você fica feliz, porque as cordas fazem um trabalho melhor. (Embora a trilha sonora também não seja um dos pontos fortes, o que é estranho para um musical.)

2) A violência é descaradamente trash – e nem sequer trash-cômico, apenas trash-gratuito. Os efeitos especiais são bons, a cargo da Dreamworks, que também pôs o dedo em Gladiador, se não me engano. ("Se não me engano" é um negócio tão cretino de se ler na Internet, não? Deixa-me ver... confere: Gladiador, Dreamworks.) E os caras são bons, mas o Tim forçou as tomadas violentas. Para piorar, você é exposto à mesma piada repetidas vezes. Se tiver sorte, num ângulo diferente.

3) Quem brilhou cantando foi o Borat.

Borat! Lá-lá-lááá...
Certo que o personagem dele era muito mais cômico e lhe servia perfeitamente... e lhe estava designado o sotaque italiano que, convenhamos, enriquece qualquer coisa cantada. [Testem em casa: cantem qualquer música do Sepultura imitando o Mário.] Mesmo com tantos fatores favoráveis, ele poderia ter estragado tudo. Se fosse o Kevin Bacon, por exemplo. Felizmente, ele é o Borat e sabe cantar.

Cuidado ao apertar o play. Não vai entregar nenhum segredo da trama, mas não sobrarão muitos outros motivos para assistir o filme inteiro.

Ainda segundo o autor do blog genérico, os atores periféricos que fizeram o marinheiro e a filha do Todd acabaram ofuscando os principais ao cantar... o que é parcialmente verdade. Eles cantam melhor, mas nada que arranque lágrimas ou mereça espaço na memória.

Enquanto assistia, eu pensei "Bom, quem viu o Travolta cantando e o Walken dançando em um filme e gostou, certamente vai encontrar algo que entretenha neste; talvez o enredo seja bom". Errado, enredo ruim. Vazio, previsível, muito menos ênfase do que se gostaria nos pontos dramáticos... o filme é linear demais. Sweeney Todd é um personagem insonso, que não desperta simpatia ou aversão. Mais ou menos como um zumbi vegetariano. A menina das tortas... sinceramente, porque o Tim gosta dela? Deve ser apenas porque tem um rosto com formato estranho, não lembro de nenhuma atuação dela que seja mais que mediana. Todo o esquema em que a história se baseia é raso, o casalzinho romântico é bobo e pontos importantes da história são simplesmente apresentados em duas linhas. Todd ficou preso por 15 anos, e é isso. O marinheirinho viu a guria na janela e se apaixonou, e é isso. Questão de gosto pessoal, mas prefiro quando os pilares da história são mais desenvolvidos.

Não é como se não houvesse nada de bom. A estética é encantadora, com toda essa sujeira e decadência que caem tão bem na Londres cinematográfica. A fotografia também é legal. Mas ter que ficar prestando atenção a essas coisas porque não há nada mais para te entreter é mau sinal. E, ao contrário do que tentam te convencer, não há nada inerentemente charmoso ou irônico ou poético ou filosófico em navalhas de barbear. No fim das contas, o maior mérito de Sweeney Todd é te deixar com vontade de assistir um musical inteiro com o Borat.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Adicional de fofura

O gato foi mais ou menos encomendado; a planária surgiu pela força da piada interna. (Sort of.) O Andrei achou a planária pornográfica, mas não é minha culpa se é da natureza das planárias serem pornográficas. Por favor, eu sou o artista, é ÓBVIO que quem está errado não sou eu, mas o Universo e suas criaturas pornográficas.


Já estava de saco cheio de escolher as cores, então o "sombreamento" saiu matado e ilógico, como sempre. De fato, prefiro de longe o original, em preto e branco.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Correndo com tesouras

Não sou um bárbaro*. Posso ser completamente inepto para algumas coisas, uma negação em cálculos rápidos, um cavalo nas relações sociais, um estorvo para o meu time em qualquer esporte... mas não sou um bárbaro. Não acredito em explicações divinas ou evolutivas para a superioridade da raça humana; se você se comporta como animal*, então é animal. Se quer algum respeito adicional, se quer que a sua vida tenha mais valor que a de um frango de granja, então faça por merecer.

Pois o meu cabelo estava no limite, digno de figuração em filme do Conan. (Em uma das tribos inimigas.) Se eu vou continuar me comportando mal em tantos pontos, ao menos preciso ter cabelo de gente. De preferência, cortado por alguém que saiba o que está fazendo, em um salão de verdade, que não fique no fundo de um quintal. ("Salão de verdade", esse território desconhecido... pois também não sou tão civilizado assim.) Após uns 20 dias de pânico sem saber onde cortar, fui pedir ajuda para minha irmã.

Clau: Ah, eu conheço um monte de gente que corta no Zé.
Michel: Zé?
Clau: É.
Michel: Mas... Zé? Ele é gay?
Clau: É sim.
Michel: Com esse nome? Tem certeza? Zé não é nome de gay. O que me garante que ele sabe cortar cabelo?
Clau: Todo mundo corta com ele, deixa ver se ele tem horário pra hoje. (...) Só para amanhã. Engraçado, ele atende o telefone como "José Carlos Cabeleireiro".
Michel: José Carlos? Não pode. Eu não corto lá!

Acabei marcando horário (que coisa tão civilizada, marcar horário) em um salão que fica junto ao Giassi. Assim que cheguei, a menina me entregou uma comanda com meu nome e o do profissional: Wando. Porra, ISSO SIM é nome de cabeleireiro bom. Wando, com W; agora senti firmeza. Expliquei para ele a desgraça que é o meu cabelo cortado meio curto e a resposta foi um olhar de pena. Pena mesmo, dava pra sentir a dor nos olhos dele. "Mas eu vou dar um jeito, não se preocupe." Uai, eu estava lá justamente pra isso, manda ver. Eu ficava quietinho, obedecendo aos comandos de 'vamos lavar agora' e 'vamos voltar para a cadeira'. E tudo estava muito bem, até que ele tirou uma outra tesoura e começou a mastigar o cabelo com ela em pontos aparentemente aleatórios, por baixo da massa de fios. Logo depois, o pente estava arrancando cabelos aos montes. "O que é isso? ELE É LOUCO, ele-não-sabe-o-que-está-fazendo-ele-não-sabe-o-que-está-fazendo-ele-não-sabe-o-que-está-fazendo, oh noes..." Minha irmã explicou depois que não é nada tão cabuloso assim, e provavelmente foi para o melhor. Na hora, porém, o sangue bárbaro começou a ferver e por pouco não subi na cadeira e comecei a chutar o espelho. Não fiz nada disso, não fui preso, nem terminei com cabelo cortado pela metade.

Mas ficou a mesma bosta de sempre.

* No sentido mais comum da palavra.