terça-feira, 2 de dezembro de 2008

(não peçam explicações, não sei o que foi isso, são 3 da manhã)

Estava lá, minha amiga, com roupa de ficar em casa, cara de cansada do mundo. "É impossível me amar, é isso?" A pergunta ecoava na cozinha. Ecoaria em qualquer outro cômodo — como, aliás, acontecia freqüentemente. Soava o tempo todo na sua cabeça. "Pára, não é assim, não tem isso. Esse amor que vendem por aí dura só 30 minutos, ninguém vai te amar 24 horas por dia. Nem sei porque você ia querer isso."

Inútil responder emoção com lógica, uma resposta dessas nunca satisfaz. Então me estiquei da cadeira, com cuidado para não derrubar nada da mesa — até porque eu já estava olhando por alguns minutos, calculando a melhor posíção. Me estiquei e lhe dei um beijo, quase distraído, tão natural quanto inédito. E voltei pro meu lugar com uma completa cara-de-pau, aquela que requer anos de treinamento para sair perdoável. (Ainda funciona.) Ela ficou parada, talvez decidindo ainda qual sorriso usar.

•   •   •

— O que foi isso? Como eu nunca soube disso? Você... me ama?

— Eu sinto esse carinho que sempre senti. Tenho que dar nome? Como as pessoas sabem que estão sentindo a mesma coisa quando dão o mesmo nome?

— Então me explica o que você sente.

— Complicado. Faz assim: pergunta o que eu faria ou não por você e te respondo.

— Você casaria comigo?

— Dica: comece com perguntas fáceis.

— Então... você namoraria comigo?

— Ah, isso sim. E se puser uma roupa bonita, até levo pra sair.

— Você me daria outro beijo?

Era agora, the real deal. Não tinha elemento surpresa. Tinha era a expectativa do primeiro, maldito. Esse era para ser a tradução de sentimento acumulados há anos. Tarefa impossível, vá, mas enquanto tivesse chances, ia tentar até conseguir. Puxei pela mão para que ficasse de pé. Solene era melhor. Tinha que ter mão no cabelo, tocar do jeito certo, respirar no mesmo ritmo; não era hora de economizar nada. Foi beijo e depois abraço, os dois demorados.

— É esse, bem esse. É o que estava esperando. É o abraço que quero pra sempre. É o beijo que falou sem precisar de palavras.

— Eu não acho, foi pensado. Foi estudado para agradar, para convencer. É ilusório. A coisa real vai vir algum dia e passar despercebida, de tão real.

— ...

— ...

— Só vai durar 30 minutos?

— 24 horas, não garanto. Vamos ter que negociar um dia por vez.

5 comentários:

Anônimo disse...

Melhor dos seus textos para mim!bjs

Anônimo disse...

ah esse anonimo sou eu Nine michel é o sono !bjs

Michel disse...

Você achou? Quase sempre ignoro essas coisas que vêm quando estou tentando dormir (especialmente aquelas sacadas "geniais" que já não parecem tão gloriosas à luz do dia). Nem reli o texto depois para não ficar com vontade de apagar.

O problema é que essas coisas aparecem quando o Michel oficial já encerrou o turno e o outro saiu do inconsciente para brincar. Lógico que não confio nele, safado, maldito outro. Vou trancar a porta por fora assim que descobrir onde é o quarto das personalidades.

Anônimo disse...

Ahhhhh, tranca não!

É que você não é bi-polar, é poli-polar.

Natasha disse...

Seria esse outro o Luciano?