domingo, 23 de março de 2008

O verdadeiro sentido das coisas


Lembremos pois do zumbi cósmico do oriente médio, repleto de super-poderes, pai de si mesmo, de quem se pode adquirir imortalidade ao comer sua carne. Aceite-o como seu mestre para que ele remova de sua alma a força maligna herdada pela humanidade de uma costela em forma de mulher que seguiu o conselho de uma serpente falante para comer o fruto de uma árvore mágica. (Fonte: Internet)

Assista o trailer.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Por falta de sono

Quando um bebê chora, os pais vão logo acudir. Como bebês não sabem fazer muita coisa sozinhos, eles choram a todo momento: quando estão tortos, ou sujos; quando alguma coisa dói, ou assusta. Creio que quando estão entediados, também. Afinal, funciona: choram quando acordam no meio da noite, mesmo que nada esteja errado, mesmo que não precisem que os pais façam nada por eles. Choram porque a vida de um bebê é insuportavelmente vazia sem ninguém lhes dando atenção. É isso, ou sou insensível, louco? Bebês choram por atenção, e continuam chorando porque continuam recebendo. Quando páram de chorar? Quando suas vidas deixam de ser insuportavelmente vazias? Quando deixam de precisar da atenção de outra pessoa para suportar a si mesmos? (Ou a busca de outra pessoa é justamente para esquecer de si mesmos?) Será que, se um bebê / criança / adolescente / adulto crescer sem essa garantia de atenção constante, vai virar uma pessoa carente? Ou vai justamente aprender a aceitar a si próprio e a ser independente? A sentir-se bem, mesmo sozinho?

Um episódio de Mad About You falava disso. Um episódio inteiro com Jamie e Paul sentados em frente à porta do quarto da filha. A idéia é que ela choraria, um deles entraria brevemente no quarto para dizer "Estamos aqui, não se preocupe", garantir que ela não precisava de nada e sair em um minuto. Isso acostumaria a filha com a idéia de que não poderia contar sempre com eles para tudo. Descrevendo assim, parece um episódio ridiculamente chato, mas é legal. Para quem gosta de Mad About You. (Não sei porque estou falando de Mad About you; deve ser o horário.)

Ainda sobre seriados, hoje assisti...

... Lil' Bush (Sony Entertainment Television) e achei decepcionante. O humor deixa a desejar; é insano, escrachado, mas gratuito e, em vários sentidos, óbvio. O que realmente me incomodou é que não é exatamente crítico. Ele mostra o Bush demonstrando todas as idéias típicas dos conservadores yankees (gays são inaceitáveis, mexicanos servem para fazer o trabalho sujo, guerra é legal etc.) Liberais assistem e dizem "É isso mesmo, conservadores são assim!"; conservadores assistem e dizem "É isso mesmo, é assim que tem que ser, bate no mexicano!" Do ponto de vista mercadológico, é uma ótima estratégia, pois entretém a todos. E não faz ninguém pensar.

... Sarah Silverman Program (Sony Entertainment Television) e virei fã no mesmo instante. E me contradigo sem pudor, porque o episódio (em que Sarah se convence que é HIV positiva e inicia uma campanha de conscientização sobre a Aids — que acaba virando uma grande campanha de promoção pessoal) não vai a lugar algum, não diz nada com nada. E é lindo. O personagem dela é odioso e adorável. E pensar que eu não queria de jeito nenhum assistir, por conta do comercial medonho. ["Hey, same car!", "Bluh! Blublubluh! Bluh-BLUH!"]

... The Daily Show (Sony Entertainment Television), como tenho feito todas as terças. E ri de modo incontido, como tenho feito todas as terças. Se, de alguma forma, o Michel de 12 anos atrás encontrasse uma máquina do tempo e pudesse comprovar que o Michel de agora não apenas se diverte com um programa sobre a situação política dos EUA como aguarda ansioso pelo próximo episódio... que mundo cruel. Que decepção. Pobre Michel de 12 anos atrás.

terça-feira, 18 de março de 2008

Papa papa tudo

No cursinho pré-vestibular, o professor de História explicou a invenção dos pecados capitais mais ou menos assim:

Pouco depois do fim do feudalismo, o papa foi dar uma volta no jardim, tropeçou e caiu. Quando foi ver em que tinha tropeçado, encontrou uma maçaneta, que estava presa em um alçapão. Na grama. Ele abriu, meio receoso, espiou o que tinha dentro, fechou rapidinho e sentou em cima. Um cardeal achou estranho e foi ver o que estava acontecendo. O papa pediu que se aproximasse e sussurrou: "Eu achei um negócio... e acho que é um purgatório". Estava vazio e limpinho, parecia nunca ter sido usado. Como não dizia nada na Bíblia sobre purgatório, o papa teve que inventar uma utilidade para ele. Primeiro, escolheu sete coisas que a burguesia (um bando de novos-ricos em ascensão) não vivia sem: vaidade, luxúria, gula, avareza, preguiça, ira e inveja. Em seguida, determinou que toda vez que cometesse um desses pecados, você deveria pagar por uma carta de indulgência (para mostrar que estava arrependido; se quisesse, poderia até pendurar na parede) e cumprir pena no purgatório depois. Ou isso, ou Inferno.

Parece bobo, mas aconteceu algo parecido há pouco tempo: o Bento acordou para tomar café e foi ler o jornal. Ele viu uma notícia e exclamou: "Mas isso é um pecado! E isso também... e isso aqui também!" Chamou o secretário e pediu para anotar e espalhar por aí a nova lista de pecados capitais, revista e atualizada:

1 · Fazer modificação genética
2 · Poluir o meio ambiente
3 · Causar injustiça social
4 · Causar pobreza
5 · Tornar-se extremamente rico
6 · Usar drogas

Fico imaginando se o papa não cometeu o sexto da lista antes de ter essa idéia. Bento, vem cá: "fazer modificação genética"? Não sei como anda a Itália, mas tu achas realmente que os católicos fazem isso com freqüência? Reformulando: quantos católicos são cientistas, quantos cientistas são católicos? Ah sim, a idéia é a conivência com essa práticas. Se eu, por azar, morar em um planeta onde exista poluição ou injustiça social, sou claramente pecador e só a Santa Igreja pode me salvar. Pula essa parte onde a gente tenta encontrar o sentido e diz logo de quanto é a conta.

"Tornar-se extremamente rico"... adorei o emprego do extremamente para isentar o próprio papa, que não vive lá uma vida de pobreza. Quem planeja tornar-se extremamente rico, fique avisado desde já: existem outras igrejas que vêem a riqueza como recompensa divina por estar fazendo um bom trabalho na Terra. Não sei bem qual é o plano do Bento, mas não acho que as novas regras vão tornar o clube dele mais popular.

Lindo mesmo achei o trecho final da entrevista concedida ao Osservatore Romano, o jornal do papa, sobre como fazer para garantir o perdão: "Confissão em 15 ou máximo 20 dias antes ou depois de cometer o pecado". Antes? Pecado programado? Ah, finalmente, um sinal de modernidade. Só ficou faltando o serviço de confissão online.

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Update (2008ano 03mês 18dia 23h 51min):

Fui perguntar direto a Deus e parece que não foi bem assim. Para que não digam que é perseguição minha, eis o link para uma réplica de que ninguém do Vaticano falou nada sobre os pecados serem "capitais" e que isso ficou por conta da imprensa. AINDA ASSIM, pecar retroativamente / por "cumplicidade" / por ter governantes corruptos em quem você não votou / por osmose continua sendo uma idéia cretina.

[Será que fumante passivo entra na dança por estar consumindo drogas? Bom, quem liga?, eu vou pro Valhalla.]

domingo, 16 de março de 2008

For those about to rock

Mais uma vez, me encantando com alguma peripécia online. Pandora foi pro saco, só funciona no Brasil com proxy. (Ninguém quer nem saber o que é "proxy", quanto mais usar...) MP3tunes serviu de quebra-galho, como alternativa às rádios online, mas é um serviço truncado (e você gasta tanto tempo abastecendo quanto passa ouvindo). Streampad é simpático e até prático, mas tão incerto quanto sair caçando rádios anônimas por aí.

Enquanto não encontro uma solução para ouvir o que eu quiser onde quer que esteja*, brincarei com o Singing Box. Essa caixinha ali do lado é uma das aparências possíveis; cliquem, testem, digam se funciona para vocês. (Demora a carregar as músicas? Talvez eu deva diminuir a qualidade. Não gostou de nenhuma? Culpe o meu gosto, não há nada mais que eu possa fazer.)

Até encontrar os problemas que inevitavelmente surgirão, estou hospedando as músicas no MediaMax – o Singing Box aceita qualquer lugar que ofereça um link permanente para download (shame on you, 4shared). Mas ele não guarda nada, só organiza a lista e toca.

Se alguém conhece uma solução melhor para fazer o mesmo, levante a mão.

* E tenha um computador. E acesso à Internet. E um chefe compreensivo.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A galinhagem desvendada

A Sociobiologia está errada. Esqueça essa história de que "espermatozóides são baratos, óvulos são caros". Tudo bem: correm rumores de que os homens... como dizer... são mais displicentes do que as mulheres no tocante à fidelidade conjugal; estão constantemente buscando novas parcerias e nunca concedem exclusividade. (Não estamos afirmando nada, são os boatos.) Mas qual seria a verdadeira razão disso? Sugiro começar culpando o Código de Conduta Masculino.

Favor não confundir com o Código de Honra Masculino (igualmente secular, universal e não-inventado-na-hora-para-fazer-graça), que determina como homens devem portar-se em relação a outros homens honrados. O Código de Conduta (que não precisa ser ensinado, vem escamoteado na carga cultural) estabelece o que um homem deve fazer para certificar-se de que é homem. Se você é mulher, pode estar achando tudo muito obscuro, pois provavelmente nunca conheceu pelo nome, mas é certo que já presenciou os efeitos práticos. Beber cerveja, assistir futebol, gostar de engenharia, fazer piadas chulas sobre funções corporais: bom. Chorar, ser vaidoso, dirigir mal, fazer coisas de mulher: condenável.

Não é necessário analisar muito para ver que a vida de um homem modelo (de acordo com o Código) é bastante vazia. Tudo que envolva sensibilidade demais, senso estético apurado, ambições que não sejam estritamente profissionais, povo / território / costumes franceses, etc. acaba caindo na categoria coisas de mulher. Restam aos homens (1) uma existência superficial e pouco gratificante por definição ou (2) vergonha e exílio da comunidade masculina.

No fundo, embora não pareça, os homens são boa gente. Eles têm boas intenções e sentimentos puros, mas a sociedade é muito opressiva. São indivíduos com desejos e angústias, e querem coisas como raspar as axilas, criar poodles ou saber combinar roupas, mas não podem assumir isso. Muitos simplesmente desistem e seguem o Código à risca, tornando-se seus maiores defensores (clássica reação "se eu não posso, ninguém mais pode").

Existe uma chance de preservar alguns desses "hábitos indesejáveis": declarar que usa creme hidratante, que é vegetariano, que não acompanha Fórmula 1 porque sua namorada / esposa / mãe (este último caso, movimento deveras ousado) determinou assim. Naturalmente, você passa a ser um homem de segunda classe, mandado, submisso, conformado – mas ainda homem, e com a desculpa para manter alguns prazeres secretos.

O que apenas uns poucos conseguem enxergar, porém, é que a receita para o crime perfeito é simples. Se você for um homem notório por suas conquistas amorosas e conseguir atribuir isso às visitas ao day spa ou ao seu conhecimento de arte moderna, o céu é o limite. Não apenas você será desculpado por essas pequenas concessões como será parabenizado e admirado pela descoberta. Quem diria que saber cozinhar um ótimo coq au vin serviria para pegar mulher? Outros homens tentarão e falharão, o que apenas reforçará a sua condição lendária, seu dom natural para atrair as fêmeas. É óbvio que não são essas coisas que conquistam as mulheres mas, enquanto você tiver a atenção delas (por outros meios; vire-se), desfrutará de imunidade às acusações masculinas de "estar se entregando à viadagens".

Assim, pedimos a compreensão das mulheres. A galinhagem é a única chance que os homens têm de explorar todas as nuances de sua alma e se livrar dos grilhões de uma sociedade machista, frustrante e cruel. O galinha pode ser quem ele quiser ser.

Bom, concordo que é meio cretino contrapôr machismo com egocentrismo. Eu não disse que era a solução perfeita. Se bem me lembro, até chamei de crime.