As pessoas se comunicam de formas que variam do banal ao misterioso. Em tempos onde diálogos convencionais são obsoletos e a diplomacia está quase esquecida, o simples fato de haver comunicação, não importa quão torta, já causa espanto e um certo conforto.
No banheiro do Angeloni, a comunicação se dá através de recados rabiscados no porta-papel.
Outro dia, enquanto meditava sobre a racionalização da realidade, percebi que havia uma mensagem nova. Um tanto desajeitada, com sinais claros de que o autor não estava ainda acostumado a essa mídia. Dizia o seguinte:
SÓ O PAI SAUVA
Temas religiosos são surpreendentemente comuns, quase tanto quanto os classificados do entretenimento adulto e as obscenidades gráficas. Mas o que chama a atenção, como vocês certamente perceberam, não é o tema em si. Senti-me obrigado a deixar uma réplica:
Só a formiga saúva
Pois, alguns dias depois, "a formiga" havia sido rasurada e substituída, resultando na seguinte sentença:
Só JESUS saúva
"Este camarada só pode estar brincando", pensei. Mas a grafia (diferente da que originou a conversa) era tão sinceramente rústica que deixou-me a impressão de refletir com fidelidade o raciocínio por trás dela. Inquieto, tentei mais uma vez esclarecer a discordância com uma aplicação prática:
Em nome do pai,
da formiga e do
espírito santo
Não consigo ser mais didático que isso, juro. Não que me faltem as palavras certas; o problema está em sobrar disposição para a discórdia.
2 comentários:
E eu, que nunca entendi esses adesivos de "Deus é fiel"? Comquipode Deus, O cara, Onipresência, Superpotência e outros quetais, comquipode Ele ser fiel? Fiel à nóis? Isso não faz o menor sentido...
É fácil ser fiel quando você é o único que faz (e conhece) as regras.
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