quinta-feira, 13 de março de 2008

A galinhagem desvendada

A Sociobiologia está errada. Esqueça essa história de que "espermatozóides são baratos, óvulos são caros". Tudo bem: correm rumores de que os homens... como dizer... são mais displicentes do que as mulheres no tocante à fidelidade conjugal; estão constantemente buscando novas parcerias e nunca concedem exclusividade. (Não estamos afirmando nada, são os boatos.) Mas qual seria a verdadeira razão disso? Sugiro começar culpando o Código de Conduta Masculino.

Favor não confundir com o Código de Honra Masculino (igualmente secular, universal e não-inventado-na-hora-para-fazer-graça), que determina como homens devem portar-se em relação a outros homens honrados. O Código de Conduta (que não precisa ser ensinado, vem escamoteado na carga cultural) estabelece o que um homem deve fazer para certificar-se de que é homem. Se você é mulher, pode estar achando tudo muito obscuro, pois provavelmente nunca conheceu pelo nome, mas é certo que já presenciou os efeitos práticos. Beber cerveja, assistir futebol, gostar de engenharia, fazer piadas chulas sobre funções corporais: bom. Chorar, ser vaidoso, dirigir mal, fazer coisas de mulher: condenável.

Não é necessário analisar muito para ver que a vida de um homem modelo (de acordo com o Código) é bastante vazia. Tudo que envolva sensibilidade demais, senso estético apurado, ambições que não sejam estritamente profissionais, povo / território / costumes franceses, etc. acaba caindo na categoria coisas de mulher. Restam aos homens (1) uma existência superficial e pouco gratificante por definição ou (2) vergonha e exílio da comunidade masculina.

No fundo, embora não pareça, os homens são boa gente. Eles têm boas intenções e sentimentos puros, mas a sociedade é muito opressiva. São indivíduos com desejos e angústias, e querem coisas como raspar as axilas, criar poodles ou saber combinar roupas, mas não podem assumir isso. Muitos simplesmente desistem e seguem o Código à risca, tornando-se seus maiores defensores (clássica reação "se eu não posso, ninguém mais pode").

Existe uma chance de preservar alguns desses "hábitos indesejáveis": declarar que usa creme hidratante, que é vegetariano, que não acompanha Fórmula 1 porque sua namorada / esposa / mãe (este último caso, movimento deveras ousado) determinou assim. Naturalmente, você passa a ser um homem de segunda classe, mandado, submisso, conformado – mas ainda homem, e com a desculpa para manter alguns prazeres secretos.

O que apenas uns poucos conseguem enxergar, porém, é que a receita para o crime perfeito é simples. Se você for um homem notório por suas conquistas amorosas e conseguir atribuir isso às visitas ao day spa ou ao seu conhecimento de arte moderna, o céu é o limite. Não apenas você será desculpado por essas pequenas concessões como será parabenizado e admirado pela descoberta. Quem diria que saber cozinhar um ótimo coq au vin serviria para pegar mulher? Outros homens tentarão e falharão, o que apenas reforçará a sua condição lendária, seu dom natural para atrair as fêmeas. É óbvio que não são essas coisas que conquistam as mulheres mas, enquanto você tiver a atenção delas (por outros meios; vire-se), desfrutará de imunidade às acusações masculinas de "estar se entregando à viadagens".

Assim, pedimos a compreensão das mulheres. A galinhagem é a única chance que os homens têm de explorar todas as nuances de sua alma e se livrar dos grilhões de uma sociedade machista, frustrante e cruel. O galinha pode ser quem ele quiser ser.

Bom, concordo que é meio cretino contrapôr machismo com egocentrismo. Eu não disse que era a solução perfeita. Se bem me lembro, até chamei de crime.

7 comentários:

Anônimo disse...

Proponho que escreva esse texto na versão feminina.
Engraçado mesmo, até os homens são reféns do machismo. Seu texto dá uma noção maior dessa praga...rs...é como se o machismo não fosse totalmente a figura do homem, mas passa a ser uma espécie de algo, único, como uma espécie de chauvinist-big-boss. Aliás, como no filme 1984. [nossa, que confuso!]
É como se a praga machista colocasse máscara masculina...mas na verdade, é bem mais do que isso..."ele" não é homem nem mulher, apenas um assexuado, daqueles que vivem só no ar, entende? Algo que "manda" em nossa cultura, mas que não existe [mas existe ao mesmo tempo...]
Puts grila, como estou abstrata hoje...não dá nem para entender o que eu falo!...esquece!

p.s.: mas em relação ao texto feminino, eu gostaria de ler algo assim. Os homens são oprimidos pelo próprio machismo. E qual é a arapuca das mulheres?
Aliás, meu caro, texto/crônica belíssimo!
p.s.2.: tenho uma música para vc. Só que assim...posso fazer uma troca? Vc vê o filme e te dou a música...rs! Sabe o que é? Tem todo um contexto entre canção e filme. Se eu simplesmente mandá-la, não vai soar como na 7ª arte. Pois então, fica a sua escolha, se quiser, te mando do mesmo jeito, mas se puder, veja "Paris, Je T'Aime". (é um filme longa metragem feito só com curtas. são várias histórias que interligam-se de certa forma).
p.s.3.: ta, eu nem sei se vc vai gostar da música. Mas deu vontade de te mandar, mostrar....enfim...

Michel disse...

Eu adoro abstrações... e você sabe que me entristece toda vez que me diz para esquecer algo. Deu pra entender tudo, sim!

E que tal se você escrevesse o texto na versão feminina? Eu não saberia nem começar. E também gostaria de ler algo assim! É um trabalho de equipe: eu analiso o nosso lado e você, o de vocês.

[Vamos fazer assim: tentarei por todos os meios encontrar o filme para assistir. Não deve ser tão difícil. Se neste mesmo horário do dia 20 de Março eu ainda não tiver conseguido, por incompetência própria ou atuação de forças ocultas, você me manda a música!]

Anônimo disse...

"Mestre Shaolin says: teorias não tão loucas"

Isso é o que ele diz quando as coisas até que fazem sentido, não?

Eu acho que a tua lábia e cronicismo são verdadeiras armas pra fazer a gente se safar. Você até convence as mulheres e passa por sensível...e, logo, ganha mulher =)

Quando precisar, você vai ser meu advogado...

Michel disse...

Guardadas as devidas gracinhas, eu não acho que seja tão descabido como tento fazer parecer.

Você acha mesmo que posso usar isso para conquistar mulheres? Talvez eu devesse mudar para um formato real time... virar trovador, algo assim. Ou tentar a estratégia desses caras que oferecem poemas nos estacionamentos, com a diferença que eu ofereceria posts.

"Aê gatinha, lê isso aqui e me encontra ali no bar depois."

Carol Costa disse...

Fiquei curiosa para saber o que diz o Código de Conduta Masculino sobre rapazes que têm blog...

Crônicas inteligentes como esta colocariam em dúvida sua masculinidade ou devo supor que você é o maior comedor da região?
:P

Mas gostei desse mecanismo reclame-aqui que eu posto-lá. Isso sim é que é interatividade!

Michel disse...

"Crônicas inteligentes como esta colocariam em dúvida sua masculinidade ou devo supor que você é o maior comedor da região?"

»A-ham« Veja bem... não vamos tirar conclusões apressadas. O texto não cita em momento algum "rapazes que têm blog", e creio que todos concordamos que não é necessário tocar nesse assunto. Nunca mais.

Resposta alternativa 1:
Eu não escrevi isso não, foi um conhecido meu. Estou apenas plagiando – o que é perfeitamente permitido pelo Código.

Resposta alternativa 2:
Está passando tempo demais por aqui, mocinha! Você não tem o seu próprio blog para cuidar, não? =P

Carol Costa disse...

É que eu gosto de blogs laranjas, sabe?
;)