quarta-feira, 19 de março de 2008

Por falta de sono

Quando um bebê chora, os pais vão logo acudir. Como bebês não sabem fazer muita coisa sozinhos, eles choram a todo momento: quando estão tortos, ou sujos; quando alguma coisa dói, ou assusta. Creio que quando estão entediados, também. Afinal, funciona: choram quando acordam no meio da noite, mesmo que nada esteja errado, mesmo que não precisem que os pais façam nada por eles. Choram porque a vida de um bebê é insuportavelmente vazia sem ninguém lhes dando atenção. É isso, ou sou insensível, louco? Bebês choram por atenção, e continuam chorando porque continuam recebendo. Quando páram de chorar? Quando suas vidas deixam de ser insuportavelmente vazias? Quando deixam de precisar da atenção de outra pessoa para suportar a si mesmos? (Ou a busca de outra pessoa é justamente para esquecer de si mesmos?) Será que, se um bebê / criança / adolescente / adulto crescer sem essa garantia de atenção constante, vai virar uma pessoa carente? Ou vai justamente aprender a aceitar a si próprio e a ser independente? A sentir-se bem, mesmo sozinho?

Um episódio de Mad About You falava disso. Um episódio inteiro com Jamie e Paul sentados em frente à porta do quarto da filha. A idéia é que ela choraria, um deles entraria brevemente no quarto para dizer "Estamos aqui, não se preocupe", garantir que ela não precisava de nada e sair em um minuto. Isso acostumaria a filha com a idéia de que não poderia contar sempre com eles para tudo. Descrevendo assim, parece um episódio ridiculamente chato, mas é legal. Para quem gosta de Mad About You. (Não sei porque estou falando de Mad About you; deve ser o horário.)

Ainda sobre seriados, hoje assisti...

... Lil' Bush (Sony Entertainment Television) e achei decepcionante. O humor deixa a desejar; é insano, escrachado, mas gratuito e, em vários sentidos, óbvio. O que realmente me incomodou é que não é exatamente crítico. Ele mostra o Bush demonstrando todas as idéias típicas dos conservadores yankees (gays são inaceitáveis, mexicanos servem para fazer o trabalho sujo, guerra é legal etc.) Liberais assistem e dizem "É isso mesmo, conservadores são assim!"; conservadores assistem e dizem "É isso mesmo, é assim que tem que ser, bate no mexicano!" Do ponto de vista mercadológico, é uma ótima estratégia, pois entretém a todos. E não faz ninguém pensar.

... Sarah Silverman Program (Sony Entertainment Television) e virei fã no mesmo instante. E me contradigo sem pudor, porque o episódio (em que Sarah se convence que é HIV positiva e inicia uma campanha de conscientização sobre a Aids — que acaba virando uma grande campanha de promoção pessoal) não vai a lugar algum, não diz nada com nada. E é lindo. O personagem dela é odioso e adorável. E pensar que eu não queria de jeito nenhum assistir, por conta do comercial medonho. ["Hey, same car!", "Bluh! Blublubluh! Bluh-BLUH!"]

... The Daily Show (Sony Entertainment Television), como tenho feito todas as terças. E ri de modo incontido, como tenho feito todas as terças. Se, de alguma forma, o Michel de 12 anos atrás encontrasse uma máquina do tempo e pudesse comprovar que o Michel de agora não apenas se diverte com um programa sobre a situação política dos EUA como aguarda ansioso pelo próximo episódio... que mundo cruel. Que decepção. Pobre Michel de 12 anos atrás.

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