domingo, 7 de outubro de 2007

Educação moderna

Privado do ambiente mágico do Angeloni de Capoeiras, resta-me apenas o Giassi aqui perto de casa como fonte de novas histórias fantásticas. Infelizmente, até hoje não presenciei nenhuma.

Ontem, porém, vi uma mulher ralhando com um molequinho para que ficasse dentro do carrinho (desses que ficam embutidos nos carrinhos, eu sei que você sabe qual é). "Se tu saíres daí, vais apanhar! Eu te levo no banheiro e te bato!" Fiquei avaliando os avanços conseguidos pela Psicologia moderna em relação à educação infantil. Poucas décadas atrás, nenhum pai hesitaria em esquentar a bunda de um filho no tapa ao menor sinal de indisciplina. Aparentemente, o padrão mudou. Fazer isso no novo milênio é bárbaro e vergonhoso, por isso os pais agora cultivam a punição física como atividade clandestina. É mais ou menos como um vício que você mantém longe dos olhos dos outros.

Lembro de ter apanhado raríssimas vezes dos meus pais. (E não é por falta de memória, eu realmente lembro da minha infância.) Mas eu tinha um medo danado do meu pai, e não faria nada que merecesse surra. Nem sei porque eu tinha tanto medo, ele nem era bravo; era sério, só. (Alguém pode dizer que é porque eu sou capricorniano e obedeço autoridades e hierarquias. Well, shut up.) Algo no meu pai despertava em mim o temor/"respeito" que as igrejas tradicionais tanto prezam. Esse é o background que me tornou um adulto conformista e manipulável, o cidadão ideal para uma sociedade de consumo sem controle adequado de natalidade.

Ah é, eu sou favorável ao controle de natalidade. Tem muita gente no mundo, é isso que causa violência e poluição. Não me deixo emocionar pelos filmes de ficção futuristas, que mostram situações injustas onde um casal quer ter filhos e não pode. "Algumas famílias são maiores, outras menores. É desumano impor um padrão para todos, é contra o instinto natural." Aqui vai uma regra: se você não conseguir recitar os nomes de todos os seus filhos (legítimos ou não) em 2 segundos, está proibido de ter mais, sob pena de ter seus privilégios cortados. (A interpretação fica à cargo do juiz*.) Uma vantagem adicional desse sistema é que inibiria a escolha de nomes como Robervalésio ou Jorgeuóchintom, o que inegavelmente contribuiria para a evolução da sociedade.

* Quando digo "juiz", refiro-me a um sistema legal rápido e eficaz, à la Juiz Dredd.

7 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes, acho que ter filhos é um ato egoísta - dos futuros pais. Pra que ter filhos em um ambiente lotado (daqui a pouco, pagaremos por ar puro), onde o futuro está cada vez mais negro, a competição insuportável...pra que ter filhos se vc sabe que não existe metade das estórinhas fantasiosas que te contaram como "e viveram felizes para sempre", "o mundo é bom", "a vida é linda"...e por aí vai. Pra que ter filhos sem nem o ser humano sabe onde está e onde vai parar? Repetir os mitos, as velhas estórias, as mesmas lições? Ou...apenas para não ficar só e continuar "vivo" na espécie...vivendo?

Ok, ficou parecendo que sou um ser infeliz, largada no altar, frustrada e que a música-tema é "All By Myself"...rs...mas não é isso! Só que teve um dia que comecei realmente a tentar achar a resposta da razão de se continuar having kids. Aliás, outro dia, passando pelos periódicos da universidade, vi uma "Neewsweek" que a capa abordava algo parecido. Algo do tipo..."o que está acontecendo com os casais atualmente que não estão tendo filhos? O que aconteceu com o ter filhos?" Ou imaginei que vi? Bom, não li a matéria, só observei a capa (então posso estar tirando conclusões). Well, se quiser dar uma olhada: http://www.msnbc.msn.com/id/14535863/site/newsweek/

Não lembro direito mais das minhas teses bobas, mas tem dia que acredito em contos de fadas e, quando vejo pessoas sonhando e sonhando, falando que a vida não é completa sem filhos - isso porque diziam o mesmo a respeito dos homens - imagino que "a vida é assim mesmo"...

Veja, esse é um ponto de vista de uma "criança autista" sobre o mundo adulto. =)

Anônimo disse...

Ah...se se vou ter filhos? Well...tem dia que não e tem dia que não sei. Mas grande parte deles - dos dias - a resposta é "não". Sei que não nasci para ser mãe. Não tenho "instinto" materno e quase odeio crianças - as mal educadas, claro. Mas como a maioria é mesmo mal educada, dá quase no total..rs. Tbm não sou o tipo que fica "babando" em cima de bebes, não vejo a menor graça.
É, depois dessa acho que nasci para ser do mal...wow!

(crianças educadas são adoráveis, me dou um pouco bem com elas)

Anônimo disse...

Sabe...esses dias eu estava revendo um documentário (Dixies Chicks: Shut Up & Sing) - não sei a razão exata, mas fico revendo - e nele presenciamos famílias. As tradicionais mesmo - americana ainda por cima...rs...mas nada contra, afinal somos todos "american citizens". Então, e observando essas famílias (principalmente a de Emily Robinson), notei algo bom. E outra, não senti nenhuma relação machista. Tudo bem que não mostra a vida de casada da mulher e fora que o documentário se baseia na história de 3 mulheres (da banda Dixie Chicks) e feito por diretoras (como ser machista? Se bem que...dizem por aí que as mulheres é que são machistas), mas sei lá, deve ser possível ter uma relação sem machismo, ou pelo menos sem machismo exacerbado (os famosos “chauvinist pigs”). Pois bem, vendo o filme, acredite se quiser, mas não julguei, apenas vi e senti que "aquilo" – o que ela sente pelos filhos, a forma que cuida etc - é de verdade. Pra mim, aquela mulher tem filhos, porque os ama. Isso é estranho, mas foi o que senti. É verdadeiro o que ela tem, parece que passa dessa coisa de solidão, de mitos, lições... parece bem amor materno mesmo. Clichê, né?! Mas é...Talvez, seja possível e verdadeiro este.

Fora isso...quando eu crescer, espero que uma parte de mim seja Dixie Chicks, baby! Tenta baixar esse documentário. Vc vai rir da nação americana.

Michel disse...

Eu gosto de crianças. Não muitas. Digo, não mais de uma por vez. Na verdade, acho que gosto de infância; gosto de ver pessoinhas passando por essa fase. Mas acho que a minha estratégia é a mais egoísta de todas: eu gosto da infância dos meus sobrinhos. Gosto de aproveitar a parte boa, as alegrias, rolar no chão, as descobertas, as fragilidades, o crescimento. Não gosto de pagar contas ou limpar coisas. Não gosto de me sentir responsável pela vida de alguém. Não gosto da idéia de impor valores e condicionar comportamentos – ou de correr o risco de outra pessoa fazê-lo por mim, se me abstiver.

Michel disse...

(São temas como o dessa matéria que fazem as pessoas dizerem que tenho idéias muito liberais, mas vá lá: é ridículo ver o Estado forçando indivíduos a fazer o que não querem. A minha frase favorita é esta: "Parte do truque pode ser persuadir mulheres a começar suas famílias mais cedo." Ou seja: quando elas ainda não souberem ao certo o que querem fazer, vamos convencê-las a fazer o que queremos. E quem quer, afinal, aumentar a população? Isso ajuda a sociedade? Não, isso ajuda a elite, isso aumenta a mão-de-obra barata e o número de consumidores. Então não venham me dizer que estou sendo individualista e não estou pensando na dimensão social das coisas. Estou sendo individualista, mas aumentar a população mundial só vai aumentar a desigualdade social.

Curioso como um dos países mais preocupados em aumentar a população jovem é o Japão, onde não há mais lugar onde enfiar gente e o suicídio não é prática incomum.

A população precisa diminuir, é a lógica natural das coisas, é a lógica apontada pela Ecologia. Um mundo tão populoso não é sustentável. A "sociedade" não quer violência, não quer poluição, não quer desigualdade, mas quer expandir cada vez mais seu querido consumismo. A "sociedade" não sabe o que quer.)

Michel disse...

Quanto ao machismo: acho que as mulheres alcançaram o ponto em que podem mudar as coisas. Depende delas (como sempre dependeu). Ao menos, nos grandes centros urbanos, onde as mulheres ganham destaque, onde são público-alvo de muita gente. Mesmo quando não têm o lugar que merecem, têm meios de consegui-lo, têm poder para mudar as coisas, basta perceberem isso.

Mas devem estar dispostas a abrir mão de algumas comodidades e seguranças com idades medidas em séculos: aí está a trapaça.

Marta Diogo disse...

"o cidadão ideal para uma sociedade de consumo sem controle adequado de natalidade..."

senti-me traduzida, agora!