A Sociobiologia está errada. Esqueça essa história de que "espermatozóides são baratos, óvulos são caros". Tudo bem: correm rumores de que os homens... como dizer... são mais displicentes do que as mulheres no tocante à fidelidade conjugal; estão constantemente buscando novas parcerias e nunca concedem exclusividade. (Não estamos afirmando nada, são os boatos.) Mas qual seria a verdadeira razão disso? Sugiro começar culpando o Código de Conduta Masculino.
Favor não confundir com o Código de Honra Masculino (igualmente secular, universal e não-inventado-na-hora-para-fazer-graça), que determina como homens devem portar-se em relação a outros homens honrados. O Código de Conduta (que não precisa ser ensinado, vem escamoteado na carga cultural) estabelece o que um homem deve fazer para certificar-se de que é homem. Se você é mulher, pode estar achando tudo muito obscuro, pois provavelmente nunca conheceu pelo nome, mas é certo que já presenciou os efeitos práticos. Beber cerveja, assistir futebol, gostar de engenharia, fazer piadas chulas sobre funções corporais: bom. Chorar, ser vaidoso, dirigir mal,
fazer coisas de mulher: condenável.
Não é necessário analisar muito para ver que a vida de um homem modelo (de acordo com o Código) é bastante vazia. Tudo que envolva sensibilidade
demais, senso estético apurado, ambições que não sejam estritamente profissionais, povo / território / costumes franceses, etc. acaba caindo na categoria
coisas de mulher. Restam aos homens (1) uma existência superficial e pouco gratificante por definição ou (2) vergonha e exílio da comunidade masculina.
No fundo, embora não pareça, os homens são boa gente. Eles têm boas intenções e sentimentos puros, mas a sociedade é muito opressiva. São indivíduos com desejos e angústias, e querem coisas como raspar as axilas, criar poodles ou saber combinar roupas, mas não podem assumir isso. Muitos simplesmente desistem e seguem o Código à risca, tornando-se seus maiores defensores (clássica reação "se eu não posso, ninguém mais pode").
Existe uma chance de preservar alguns desses "hábitos indesejáveis": declarar que usa creme hidratante, que é vegetariano, que não acompanha Fórmula 1 porque sua namorada / esposa / mãe (este último caso, movimento deveras ousado) determinou assim. Naturalmente, você passa a ser um homem de segunda classe, mandado, submisso, conformado – mas ainda homem, e com a desculpa para manter alguns prazeres secretos.
O que apenas uns poucos conseguem enxergar, porém, é que a receita para o crime perfeito é simples. Se você for um homem notório por suas conquistas amorosas e conseguir atribuir isso às visitas ao
day spa ou ao seu conhecimento de arte moderna, o céu é o limite. Não apenas você será desculpado por essas pequenas concessões como será parabenizado e admirado pela descoberta. Quem diria que saber cozinhar um ótimo
coq au vin serviria para pegar mulher? Outros homens tentarão e falharão, o que apenas reforçará a sua condição lendária, seu dom natural para atrair as fêmeas. É óbvio que não são essas coisas que conquistam as mulheres mas, enquanto você tiver a atenção delas (por outros meios; vire-se), desfrutará de imunidade às acusações masculinas de "estar se entregando à viadagens".
Assim, pedimos a compreensão das mulheres. A galinhagem é a única chance que os homens têm de explorar todas as nuances de sua alma e se livrar dos grilhões de uma sociedade machista, frustrante e cruel. O galinha pode ser quem ele quiser ser.
Bom, concordo que é meio cretino contrapôr machismo com egocentrismo. Eu não disse que era a solução perfeita. Se bem me lembro, até chamei de crime.