terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd (2007)

Eis um filme estranho. Claro, com Tim Burton dirigindo, isso é meio óbvio... mas mesmo assim. Tim Burton é um maluco estranho: não maluco no mau sentido, mas também não no bom. Creio que ele tenha inaugurado um sentido médio para o termo. Não me empolga muito esse tipo de malucos, mas Johnny Depp no papel principal confere a credibilidade mínima para me fazer arriscar e assistir.

Como nunca resisto, fui antes ler algumas resenhas e opiniões gerais sobre o filme. Tudo muito bonito, críticos lambendo tudo e todos... exceto pelo autor de um blog desconhecido apontado pelo Google. Eu acabo me identificando com opiniões de autores de blogs desconhecidos, principalmente se o layout for generoso com o laranja. Não era o caso, mas confirmei alguns fatos lá apontados:

1) Johnny é um ótimo ator, está no auge e tem boa desenvoltura em personagens de diversos sabores. Mas não é um cantor notável. Até li em algum lugar alguém elogiando o desempenho dele. Devaneio, essa pessoa estava drogada. Não é ruim, mas tão limitado e pouco inspirado que os instrumentos freqüentemente se sobressaem e escondem sua voz nos pontos mais dramáticos do texto. E você fica feliz, porque as cordas fazem um trabalho melhor. (Embora a trilha sonora também não seja um dos pontos fortes, o que é estranho para um musical.)

2) A violência é descaradamente trash – e nem sequer trash-cômico, apenas trash-gratuito. Os efeitos especiais são bons, a cargo da Dreamworks, que também pôs o dedo em Gladiador, se não me engano. ("Se não me engano" é um negócio tão cretino de se ler na Internet, não? Deixa-me ver... confere: Gladiador, Dreamworks.) E os caras são bons, mas o Tim forçou as tomadas violentas. Para piorar, você é exposto à mesma piada repetidas vezes. Se tiver sorte, num ângulo diferente.

3) Quem brilhou cantando foi o Borat.

Borat! Lá-lá-lááá...
Certo que o personagem dele era muito mais cômico e lhe servia perfeitamente... e lhe estava designado o sotaque italiano que, convenhamos, enriquece qualquer coisa cantada. [Testem em casa: cantem qualquer música do Sepultura imitando o Mário.] Mesmo com tantos fatores favoráveis, ele poderia ter estragado tudo. Se fosse o Kevin Bacon, por exemplo. Felizmente, ele é o Borat e sabe cantar.

Cuidado ao apertar o play. Não vai entregar nenhum segredo da trama, mas não sobrarão muitos outros motivos para assistir o filme inteiro.

Ainda segundo o autor do blog genérico, os atores periféricos que fizeram o marinheiro e a filha do Todd acabaram ofuscando os principais ao cantar... o que é parcialmente verdade. Eles cantam melhor, mas nada que arranque lágrimas ou mereça espaço na memória.

Enquanto assistia, eu pensei "Bom, quem viu o Travolta cantando e o Walken dançando em um filme e gostou, certamente vai encontrar algo que entretenha neste; talvez o enredo seja bom". Errado, enredo ruim. Vazio, previsível, muito menos ênfase do que se gostaria nos pontos dramáticos... o filme é linear demais. Sweeney Todd é um personagem insonso, que não desperta simpatia ou aversão. Mais ou menos como um zumbi vegetariano. A menina das tortas... sinceramente, porque o Tim gosta dela? Deve ser apenas porque tem um rosto com formato estranho, não lembro de nenhuma atuação dela que seja mais que mediana. Todo o esquema em que a história se baseia é raso, o casalzinho romântico é bobo e pontos importantes da história são simplesmente apresentados em duas linhas. Todd ficou preso por 15 anos, e é isso. O marinheirinho viu a guria na janela e se apaixonou, e é isso. Questão de gosto pessoal, mas prefiro quando os pilares da história são mais desenvolvidos.

Não é como se não houvesse nada de bom. A estética é encantadora, com toda essa sujeira e decadência que caem tão bem na Londres cinematográfica. A fotografia também é legal. Mas ter que ficar prestando atenção a essas coisas porque não há nada mais para te entreter é mau sinal. E, ao contrário do que tentam te convencer, não há nada inerentemente charmoso ou irônico ou poético ou filosófico em navalhas de barbear. No fim das contas, o maior mérito de Sweeney Todd é te deixar com vontade de assistir um musical inteiro com o Borat.

3 comentários:

Marta Diogo disse...

Fiquei duplamente preocupada após ler seu comentário...

1º Achei que você fosse revelar o filme.

2º O pouco revelado, me fez perder a vontade de vê-lo.

:(

Michel disse...

1º) Eu também, desculpe por tê-la desapontado.

2º) Não! Veja! As pessoas têm que assistir para discutir comigo depois! E algumas partes do texto são engraçadas (em inglês, naturalmente), como a descrição dos sabores das tortas.

Eu sei que você quer ver. Hein? Hein?
Johnny Depp?

Anônimo disse...

"... principalmente se o layout for generoso com o laranja"?

Ê-ba.