quinta-feira, 5 de abril de 2007

Currently feeling: like shit

O que deveríamos estar buscando?
Responda: (1) como indivíduo e (2) como sociedade.

(1) Meu trabalho está aliviando o bastante para me dar tempo de conversar com pessoas e vasculhar a Internet. Nessas ocasiões, surge a pequena coceirinha que logo crescerá e se tornará uma linda sensação de inutilidade – provavelmente uma reação natural e passageira ao período imediatamente anterior, cuja palavra de ordem era produtividade. Ainda assim, a coceirinha nunca some de todo.

Tempo extra para conversar e vasculhar é também tempo extra para pensar e, quanto mais penso, mais me convenço de que meu trabalho não muda nada. As semanas passam tão rápido que não há mais como diferenciar os dias; são todos o mesmo. Recebi hoje uma caixa de bombons; ainda lembro do agrado da Páscoa passada (e se EU lembro de algo, é porque realmente faz pouco tempo, mesmo que relativamente). Um ano, e meu trabalho não mudou nada, eu não mudei nada no meu trabalho, nada mudou nada em nada. É assim mesmo? Ou eu deveria estar buscando mais, mudando mais, fazendo mais diferença? O que estou fazendo agora parece muito pequeno, a vida não pode ser só isso. O que, então, deveria estar buscando?

Deveria estar ajudando pessoas, fazendo coisas, coisas que importam, coisas que marcam, coisas que mudam as coisas? Deveria fazer diferença, me destacar por algo, ser um modelo, imitado, seguido? É isso mesmo? Deveria me aperfeiçoar, buscar reconhecimento, ser um eu melhor, enfim: deveria buscar eliminar a coceirinha? De que isso ajuda? Isso ME ajuda, mas não muda mais nada; só muda a mim mesmo, me torna o que acho que deveria ser, me dá argumentos para defender minha existência, mas ela não deixa de ser mesquinha e egocêntrica. Para resolver o mundo, basta resolver a mim mesmo? De forma isolada? Isso ainda parece muito pequeno, a vida ainda não pode ser sobre isso.

Há quem seja notável e fundamental para a sociedade que conhecemos sem sequer se dar conta disso. Leonardo da Vinci teria imaginado a influência que exerceria nos séculos que seguiram sua morte? Albert Einstein teria concebido a revolução que suas idéias e teorias causariam? E, e... quem mais citar? É difícil julgar/comparar personalidades de tal magnitude, e quase impossível elevar-se ao mesmo patamar. Afetar a vida de incontáveis pessoas de forma tão básica, redefinir a sociedade. E para quê? Para tornar as coisas melhores para os bilhões que não buscam nada, não mudam nada, não fazem diferença alguma? De que vale isso, impulsionar aqueles que abandonarão o impulso? Ainda parece pequeno, efetivamente não muda nada e, de fato, soa mais deprimente que as opções anteriores: é a conivência com a mediocridade.

O que deveríamos estar fazendo, então? Combatendo a mediocridade? Promovendo o aperfeiçoamento coletivo? Revolucionando a sociedade de dentro para fora? Isso é grande demais para uma vida! Do pequeno, se passa ao muito grande sem meio termo, sem real opção. Não há nada a buscar, então? É ISSO?

[Ah sim, meu humor está terrível hoje. Click-click.]

(2) Deixar o indivíduo em paz.

13 comentários:

Anônimo disse...

ah, ouve KIllers. e lê marx. tipo. sei lá. =p

Michel disse...

"O discurso liberal de que a busca dos objetivos individuais [...] levaria a um "desenvolvimento" da sociedade me parece invalida" [Diego]

Não foi o que quis dizer; não acho que Einstein ou Leonardo faziam idéia da importância que os outros dariam ao seu trabalho décadas depois, nem que buscavam um "desenvolvimento da sociedade". Demanda bastante arrogância buscar isso, pois pressupõe compreender profundamente a sociedade e o que ela 'precisa'.

Questiono justamente o que devemos fazer como indivíduos, porque eu só posso tomar decisões como indivíduo.

Em todo caso, o liberalismo, de modo geral, não me desagrada. Não acho que o Estado deva interferir em questões morais, por exemplo. Já o neo-liberalismo é outra história.

Michel disse...

"Na minha medíocre opinião [...] devemos fazer coisas que realmente sejam relevantes, relevantes para o coletivo e consequentemente para mim." [Diego]

Sua opinião nunca é medíocre, my brother of metaaal!
(Acelera a moto e bate na bunda da vadia na garupa.)
É humilde, porque você assim a quer; mas não medíocre (que depende de mérito, não de escolha).

Incomoda-me justamente essa ordem: (1) relevante para o coletivo (2) e conseqüentemente para mim. Justamente por não conseguir apontar o que é relevante para mim, não me atrevo a tentar entender antes do que a sociedade precisa; pois se nem consigo ver do que eu preciso...

Atrevo-me, porém, a dizer o seguinte: a felicidade (se é este o objetivo genérico final de tudo) existe apenas para o indivíduo, não para a sociedade. Pois felicidade é algo subjetivo e o coletivo não é capaz de julgamento; o coletivo é um reflexo, a colcha de retalhos feita dos julgamentos individuais.

Michel disse...

Antes que eu esqueça: vão ouvir Green Day.

E Renata, fala aí com o Diego; vocês, pessoas da História, vão se entender. =D

Anônimo disse...

"Questiono justamente o que devemos fazer como indivíduos, porque eu só posso tomar decisões como indivíduo."

Se você por presidente da república você pode tomar decisões como país... o que normalmente não é nada de bom :)

Mas agora que você descobriu o segredo da vida, sinuquinha de leve? hein hein? Baldão? Objetivo da vida num baldão com a areia?

Anônimo disse...

self made woman. é o que me tornei, caríssimos.

Michel disse...

"Se você por presidente da república você pode tomar decisões como país..." [Hique]

Não vou nem comentar porque sei que você está zoando. =D

Chegará o dia em que o mundo será mais justo, as pessoas serão mais livres, as vidas serão mais fáceis e o Hique conseguirá comentar com seriedade algo que não envolva fotografia. Ou tênis. Ou aviões.

(Zoei.)

Moita disse...

sobrou um tempo, e achei o tópico interessante, vá lá:

Na minha humilde opinião (aliás, me considero um caro humilde, e bonito, pra caralho!) concordo com o Michels, existem inúmeros objetivos individuais que seguem uma moda (no sentido estatístico da palavra) que representam uma determinada "classe" de idéias similares. Muitos outros animais, além do animal homem, devoram os filhotes de outros, e às vezes seus próprios. Acredito que o homem não foge a essa regra, tem suas próprias necessidades, independente do outro (na teoria dos jogos isso é chamado de soma diferente de zero). Algumas vezes estas necessidades coincidem e o indivíduo se torna coletivo, e não o inverso (soma zero). O grande problema de todo esse lerolero é que o excesso de interesses X não tarda a invadir os interesses Y, ou seja, traçando um paralelo com a liberdade: A sua liberdade termina quando invade a minha. Aí começam a rolar a iniciativa. O canibalismo começa, cachorro comendo cachorro. Outra coisa, não sou tão favorável assim a sistemas voltados ao "coletivo". Particularmente acho que não sobreviveria comendo a mesma cota de comida, vestindo a mesma roupa. Imagina só, nunca poderei me esforçar mais e ganhar mais que a média, não sei, parece sem coração, mas estou sendo sincero. Tenho uma amiga da geografia que diz que o grande problema do capitalismo, mesmo em situações utópicas onde todos tenham a mesma oportunidade (o que tenho de concordar que não acontece no mundo real) é que o planeta não suporta toda a demanda de necessidades infinitas dos seres humanos. É assim na economia não é? A ciência que estuda a escassez de recursos? Mas daí já parto para a área ambiental, que são outros quinhentos. Resumindo essa mistura de divagação, desabafo e cansaço ideológico, descobri duas coisas recentemente. Não tenho uma opinião política definida (nem consegui ser influenciada por ninguém - e olha que eu tentei), já estive fifty fifty, mas hoje acabo pendendo para o individuo. E outra coisa recente que descobri é a minha posição religiosa: Sou frouxo demais para ser ateu (e olha que me esforcei, Nietzsche está de prova) mas não suporto a idéia do "nada", acabei preferindo a dúvida, ou seja, o nome cool para os cagões que não conseguem ser ateus é "agnóstico". Enfim sou isso aí.

Convite: Vamos reunir os stormblasters para degolar uns orcs no último dia do mês?

Abraços,
Moita®

Anônimo disse...

Cara, essa angústia é exatamente o sentido de tudo. O que devemos fazer? Abrir o leque de possibilidades. E vivê-las.

Michel disse...

Caro humilde e bonito Moita®:

Cuidado com o excesso de leitura especializada, pode fazer mal à sua vida social! Esse negócio de "moda" e "soma" e "cachorro" é muito complicado e coisa de gente louca; favor não usar em conversas de bar ou eventos de orc stormblasting.

A conversa não se enveredou para os sistemas políticos por minha conta (não que isso seja ruim) mas, como já disse antes, é engraçado que a gente se conheça desde moleque e não saiba ao certo como cada um pensa sobre determinados assuntos. O grande problema do capitalismo, para mim, é que o planeta não pode dar conta de satisfazer todas as necessidades que as pessoas inventam e vendem umas às outras; essas sim são potencialmente infinitas. As necessidades reais são razoáveis e possíveis de suprir, ou o homem simplesmente não chegaria ao estágio atual. Ferrari, iPod, cirurgias plásticas, Coca-Cola, nada disso é necessidade real. Eu quero muito ter um iPod (o mais caro, de preferência), não porque eu precise, mas porque ele representa muito mais coisas do que um simples mp3 player. iPods são práticos, cool, bonitos, modernos; as pessoas parecem crer que o que você tem reflete o que você é; então, por associação, quem tem iPod é prático cool bonito e moderno. É a mesma idéia do comércio de obras de arte: pessoas refinadas/intelectualizadas têm gosto refinado/intelectualizado e consomem coisas refinadas/intelectualizadas. Embora tenha o dinheiro, nunca comprei um iPod porque sei que não preciso de um, ainda que tenha sido (e continue sendo) adestrado para querer. Os iPods são as Montblanc modernas.

"Sou frouxo demais para ser ateu", hahahaha. Boa. Eu acredito em divindade, não acredito é nas religiões. Mas posso conviver facilmente com o "nada", é o mesmo caso iPod se repetindo. As pessoas querem uma vida eterna porque alguém inventou e vendeu a idéia. Ninguém precisa de uma vida eterna – mesmo porque ninguém sabe como é.

Anônimo disse...

Wow! Não tenho palavras para lhe dizer! São 02:48 da manhã e eu lendo palavras desconhecidas de mim mesma - porque por mais que outro as tenha escrito, fazem parte do meu "eu".
Enquanto a sociedade busca um "não-sei-o-quê", iludindo-se "hedonistiamente" (acho que essa palavra não existe), me tornei por alguns minutos niilista. Uma pseudoniilista. Aliás, uma "niilistinha". Nesse exato momento - e por esses dias tbm - ando tão desacreditada. A vida dói - mas de certa forma, é boa.
Sei lá...me deu vontade de escrever isso. Nem sei se tem a ver com o texto.
Muito legal seu momento filosófico. É incrível como ficamos mais profundos nos "bad moments". Muito obrigada.

Anônimo disse...

P.S.: ah, eu queria mandar um beijo para o meu pai, para a minha mãe e pra vc!

Anônimo disse...

e aliás, vou colocar isso no meu blog.