segunda-feira, 9 de julho de 2007

Estranhos perigos

Roberto: Oi! Boa noite! Não abra o portão, não chega muito perto ainda, eu posso ser um ladrão!

Michel: ?

Roberto: Posso falar contigo? Olha, eu moro no sul da ilha, se quiser eu te dou referências, sem problemas. Eu te dou o número da minha casa, tu podes ligar e confirmar tudo...

Michel: Pois não? Do que você precisa?

Roberto: É rapidinho, viu? Eu vou te explicar. Eu estava viajando, peguei carona com um caminhoneiro, ele me deixou ali na BR. Olha, eu sei que é muito chato mesmo, se tu não quiseres me ajudar, tudo bem, eu vou entender, só não me manda embora ainda...

Michel: Tem como encurtar um pouco a história?

Roberto: Pois é, eu estava vindo lá de Curitiba, desde lá sem dinheiro, e...

Nessa hora, apontei no sentido da rua.

Roberto: Não, calma, é rapidinho!

Michel: Você se importa de me contar a história caminhando?

E andamos em direção ao ponto de ônibus. Desde o começo não achei que ele fosse um ladrão; estava mais bem vestido do que eu costumo me apresentar ao trabalho. E também era mais eloqüente do que eu sou no trabalho. E ele era igualzinho ao comandante Tucker da Enterprise. Como alguém poderia parecer mais confiável do que isso?

No caminho, ele elucidou alguns detalhes de sua vida que, sinceramente, não consigo imaginar porque alguém contaria a estranhos. O pai dele foi assassinado há dois anos pela madrasta, se lembro direito, para evitar que ele passasse alguns bens para o nome de outra pessoa. Algo assim. O Roberto foi intimado a testemunhar mas não compareceu; assim, a justiça expediu um mandado de prisão preventiva para tomar o testemunho na marra. "Eles te prendem de qualquer jeito, sabe? Mesmo que tu não tenhas cometido crime. Até esclarecer e resolver tudo dá trabalho." Talvez ele estivesse tentando justificar porque não tinha um trabalho no momento, mas ei! Relaxa. Quando estou tentando convencer alguém de que não sou ladrão, eu também começo a falar sobre os assassinatos em que minha família se envolveu e sobre o meu histórico com a polícia.

Ofereci uma nota de cinco.

Roberto: Olha, R$ 4,20 é tudo que eu preciso pra chegar em casa. Me empresta o bastante para ir até o Centro, lá eu me viro.

Michel: Relaxa.

Eu não estava com saco de contar moeda no escuro, e queria me despedir logo para pegar o mercado ainda aberto. Já me imaginei algumas vezes nessa situação: estar em um lugar que não faço muita idéia de onde fica, sem dinheiro ou telefone. O caso dele era um pouco pior, pois passava de dez da noite. A primeira coisa que me contou quando começamos a caminhar foi que 'o meu vizinho lá adiante' o havia maltratado como se fosse o cão e ameaçou chamar a polícia, por isso começou falando comigo daquele jeito. Imagina, chamar a polícia para levar o comandante Tucker!

Enfim, era o tipo de situação em que eu odiaria mortalmente estar, então nem hesitei em dar o dinheiro. Mas, pela reação, é possível que o dinheiro em si tivesse tanto valor quanto a própria disposição em ajudar. Cinco reais não é muito dinheiro. Digo: R$ 4,20 para chegar em casa de ônibus certamente é um roubo; I blame The Eye of Angela and the Darionopolis Project for that. Mas ele falava como se o mais improvável de tudo fosse conseguir todo o dinheiro necessário de uma pessoa só.

Roberto: Sabes onde fica o Espetinho de Ouro, em Barreiros? [Sei lá se era esse mesmo o nome.]

Michel: Não muito.

Roberto: É que... eu vou estar lá no dia 15 agora, fazendo um bico. Se tu quiseres aparecer lá, eu te devolvo esse dinheiro.

Michel: Relaxa, não esquenta não.

Roberto: Ou eu posso levar na tua casa depois, eu sei onde tu moras.

Foi exatamente nesse momento que minha espinha gelou. Alguém estava dizendo que queria ir à minha casa. Peraí. Eu confiei em você, eu te ajudei, você não tem nenhum motivo para ameaçar ir à minha casa! Odeio gente na minha casa, odeio parentes na minha casa. Só aceito pessoas realmente próximas lá. E certamente, com convite.

Michel: Cara, RELAXA, não precisa. [No total, eu devo tê-lo mandado relaxar umas quatro vezes em três minutos de conversa.]

Fiz menção de que tinha que ir. Ele apertou a minha mão com vontade e agradeceu. Mostrei a ele onde ficava o ponto de ônibus e corri em direção ao mercado. Temi que ele estivesse pensando em virar meu amigo.

9 comentários:

Anônimo disse...

Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Se você quiser linkar meu blog no seu eu ficaria agradecido, até mais e sucesso. (If you speak English can see the version in English of the Camiseta Personalizada. If he will be possible add my blog in your blogroll I thankful, bye friend).

Michel disse...

Isso é tão cretino que tenho pena de apagar.

I gladful you thankful, hallekful, you lose, pirilirilirilirili.

Flávia Esper disse...

Hahahahahahahahaha
Pelo visto, não é só na rua que gente estranha vem atrás de vc pedindo favor.
Beijo, Mi!!

Anônimo disse...

W-o-w! Vc tem certeza de que isso não foi um sonho?

P.S.: o negócio do metal foi apenas por curiosidade. É que não curto mesmo e noto que as pessoas que conheço que gostam, são um saco - musicalmente falando -, acham que só metal presta, só metal é rock, só metal é isso, pq metal é aquilo...sinceramente se eu começo apensar muito, fico p*. Acho isso tão idiota!
Beijo!

Anônimo disse...

E vai me desculpar, mas é horrível aquelas músicas horrorosas com um "animal" gritando e fazendo voz grave que chega dá medo. Qual é a graça e beleza disso? Tudo bem, pode até haver, já que a beleza é subjetiva, mas tô "cagando e andando" para metaleiros e metal. Sim, eu acho horrível metal, acho uma merda!
*eu precisava desse desabafo. Muito obrigada!*

Moita disse...

Para mim não parece um cara confiável não... está mais para perfil de psicopata.

Anônimo disse...

O espetinho de ouro é fantástico

Anônimo disse...

E a propósito, o que a S! ouve?

Michel disse...

Milton e Dalton, entre outras coisas.