domingo, 14 de outubro de 2007

Arte moderna

Estava eu numa empolgante operação de backup no trabalho. Meus computadores ocupados, e não podia sair invadindo os dos outros. Sabem essas pessoas que rabiscam em qualquer papel quando estão distraídas ao telefone? Eu não faço isso, não rabisco nunca – exceto quando estou deprimido. A última vez que fiz, algumas semanas atrás, ficou assim:

Quando você clica na imagem, ela amplia. Na maioria das vezes.
Recomendo abrir em uma nova janela. Eu faria para você se soubesse como.

Qualquer traço em azul claramente não é meu, deve ser do Gerson; esse foi o primeiro papel que apareceu. E minha letra (essa em preto) não é assim. Exceto quando estou deprimido. E com preguiça.

Como a intenção do artista pode não se mostrar claramente aos leigos, peço licença para fazer uma breve comentário sobre a obra. O críptico traço em preto no canto superior esquerdo, não faço idéia do que seja, já estava lá. Ou talvez eu estivesse testando a caneta. De qualquer forma, tem inegável influência das representações de barbatanas de tubarão pelas tribos polinésias.

As girafas não deram muito certo e ficaram parecidas com cachorros, então desenhei um gato para disfarçar.

O aeroplano dental é reflexo de minhas experimentações na infância, quando tinha brinquedos de menos e lixo demais.

A coxinha atômica, bom... foi um dos primeiros desenhos, veio logo depois do garoto-moeda. Vocês vão ter que me dar um desconto, considerem como aquecimento.

Destaque central para a releitura do clássico da comunicação visual xulaca: o Homem de Porta de Banheiro com Braço na Cabeça. Auto-explicativo, importância inquestionável, homenagem mais do que adequada.

Pássaros e aeronaves são um motivo freqüente, quase sempre marcados pelo invariável preto da caneta... er, preta. E de ponta grossa, então não havia muita opção além de preencher os contornos. Hachuras constituem uma ousadia não recompensada, como mostra o pássaro-mão da mão de muitos dedos do que dois voando.

O fusca é banal e a bolha com olhos nem eu entendo. Resta O Sapateiro. Enigmático. Assim permanecerá.


(Fiquei devendo o clipe de duas cabeças, que desenhei depois de já ter escaneado.)

Obrigado.

domingo, 7 de outubro de 2007

Educação moderna

Privado do ambiente mágico do Angeloni de Capoeiras, resta-me apenas o Giassi aqui perto de casa como fonte de novas histórias fantásticas. Infelizmente, até hoje não presenciei nenhuma.

Ontem, porém, vi uma mulher ralhando com um molequinho para que ficasse dentro do carrinho (desses que ficam embutidos nos carrinhos, eu sei que você sabe qual é). "Se tu saíres daí, vais apanhar! Eu te levo no banheiro e te bato!" Fiquei avaliando os avanços conseguidos pela Psicologia moderna em relação à educação infantil. Poucas décadas atrás, nenhum pai hesitaria em esquentar a bunda de um filho no tapa ao menor sinal de indisciplina. Aparentemente, o padrão mudou. Fazer isso no novo milênio é bárbaro e vergonhoso, por isso os pais agora cultivam a punição física como atividade clandestina. É mais ou menos como um vício que você mantém longe dos olhos dos outros.

Lembro de ter apanhado raríssimas vezes dos meus pais. (E não é por falta de memória, eu realmente lembro da minha infância.) Mas eu tinha um medo danado do meu pai, e não faria nada que merecesse surra. Nem sei porque eu tinha tanto medo, ele nem era bravo; era sério, só. (Alguém pode dizer que é porque eu sou capricorniano e obedeço autoridades e hierarquias. Well, shut up.) Algo no meu pai despertava em mim o temor/"respeito" que as igrejas tradicionais tanto prezam. Esse é o background que me tornou um adulto conformista e manipulável, o cidadão ideal para uma sociedade de consumo sem controle adequado de natalidade.

Ah é, eu sou favorável ao controle de natalidade. Tem muita gente no mundo, é isso que causa violência e poluição. Não me deixo emocionar pelos filmes de ficção futuristas, que mostram situações injustas onde um casal quer ter filhos e não pode. "Algumas famílias são maiores, outras menores. É desumano impor um padrão para todos, é contra o instinto natural." Aqui vai uma regra: se você não conseguir recitar os nomes de todos os seus filhos (legítimos ou não) em 2 segundos, está proibido de ter mais, sob pena de ter seus privilégios cortados. (A interpretação fica à cargo do juiz*.) Uma vantagem adicional desse sistema é que inibiria a escolha de nomes como Robervalésio ou Jorgeuóchintom, o que inegavelmente contribuiria para a evolução da sociedade.

* Quando digo "juiz", refiro-me a um sistema legal rápido e eficaz, à la Juiz Dredd.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Poker face

Ah, sim, desconsiderem. Eu levantei e escrevi o post anterior sonambulamente, para dormir logo em seguida. Praticamente o mesmo que escrever bêbado. (Não estou de forma alguma detratando tal modalidade poética.)

Estava até de bom humor, hoje. Não o bastante para fazer a barba – mas nem discuti com ninguém, vejam só.

(Detalhe: não faço a menor idéia do que eu quis dizer com "poker".)

Poker

Foi assistindo TV que o pensamento me assaltou: eu havia esquecido dela. E junto veio um misto de alívio e aflição; a idéia de que, a partir desse ponto, ela não mais faria parte da minha vida – nem mesmo da imaginária. Tantas vezes estive triste por causa dela, por falta dela... mas agora, não. Estou triste por inúmeras outras coisas. Mas talvez por todas essas coisas é que tenha me distraído e parado de pensar nela, porque foi só lembrar de tê-la esquecido que voltaram todas as lembranças, as boas e as ruins. Será que o único modo de esquecê-la é procurar uma dor maior? Já me convenci que não é a procura de um prazer maior, porque nenhum se compara. Ninguém me transforma como ela. Por ninguém mais eu morreria ou mataria. Não sou dramático nem violento, esse é o efeito que ela causa em mim. A disposição para pagar qualquer preço, para alcançar meus extremos. Sou assim só por ela, por ninguém mais. Meu eu dela: menos eu, com menos controle, menos sossego, porém mais completo, mais complexo.

Isso assusta, porque deixo de pertencer a mim mesmo. E porque não faço idéia se ela sentiria sequer uma fração disso.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tool, Lateralus (2001): Parabola (video)

Nem sei como descrever esse vídeo. É tanta bizarrice junta que passa do limite aceitável – passa tanto que começa até a fazer sentido. A parte introdutória da música propicia todo um clima de reflexão e seriedade, mas quando o boneco começou a flutuar, eu já estava rindo muito.



[Pois é, algumas partes são bem escuras. Ajudaria se o fundo da página não fosse tão claro, mas no layout do YouTube também fica assim. Paciência.]

Não tenho a mais vaga idéia do que os caras tentaram passar com a animação, ou se tentaram passar alguma coisa, mas a certa altura ela fica serena como a música sugere. (Sugerira, porque agora a bateria já está sendo moída.)

É grande, demora a carregar e a ver, mas você terá no mínimo o consolo de que é bem feitinho, tecnicamente falando. No mínimo. Dá para viajar bastante no simbolismo, mas é possível que aproveite melhor a experiência se não tentar entender com muita força. Não tenha medo, quando começa a ficar perigosamente psicodélico, acaba.

["Sugerira"? Eu hein.]

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Se ainda tiver fôlego, clique neste aqui. O primeiro do Tool que assisti, ainda na época em que as pessoas usavam TVs para ver essas coisas. Foi a lembrança espontânea dele que me fez procurar mais material da banda, poucos meses atrás. Comparado com o de Parabola, o vídeo de Sober é quase didático. (Quase.)

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Costumes

Sinto falta de fazer mais coisas cercado de gente. Especialmente coisas que causam vontade de comentar: ver filmes, ouvir música, fingir que cozinho. Mesmo que eu não comente, gosto de ouvir os comentários dos outros.

Se ainda almoçasse sozinho, como fazia até poucos meses atrás, teria perdido os comentários de hoje. TV ligada no telejornal, mostrando um breve resumo do que foi a Parada da Diversidade na Beira Mar: basicamente, pessoas reclamando que isso atrapalhou o trânsito e dificultou o acesso às praias. Como eu não gosto de praia, fodam-se! =D Deixem os coloridos pararem tudo por um domingo, vocês têm outros 51 para aproveitar (azar o seu se não fizer sol e calor em todos). Mas curioso mesmo foi a reação de todos no restaurante quando, após algumas cenas do evento, dois caras se beijaram na frente da câmera. Houve todo aquele movimento sincronizado de espinhas contraindo e "uis" de nojo. Eu quase comentei distraído "Pára, gente, isso aí é normal"; naturalmente, não é tão tentador defender o direito de cada um seguir seu rumo quando você está cercado de peões e dondocas. (Parando para pensar, é estranho que um lugar reúna esses dois espécimes simultaneamente.)

Foi a primeira vez que me dei conta de que acho normal. Creio que acostumei – por superexposição, mesmo. De ver em filmes, e em festas com pessoas estranhas, e de tanto me dizerem que é normal. Parece normal. Não que não devesse parecer normal, sei lá. Ou talvez não devesse. Enfim. Não fui criado para achar normal, e agora acho. Não necessariamente bom ou desejável; apenas normal, como a violência urbana, a alternância dos movimentos artísticos ou o desencanto pela política. Talvez parte do objetivo da parada seja justamente essa superexposição, obrigar as pessoas a ver o negócio de perto até que comecem a achar normal (ou tolerável, o que já seria bastante coisa em muitos casos).

Tudo bem que, vendo dois caras se agarrando ao vivo, ainda é difícil conter um certo asco, mais ou menos como ao ver alguém mordendo uma cebola. Mas eu aceito a idéia de um mundo onde as pessoas sejam livres para morder cebolas.

Em tempo: às vezes me pego lendo coisas como essa e imaginando se chegaremos ao ponto em que tudo seja "normal".

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Imposto sobre Consciência

A carga tributária média brasileira é quanto mesmo? 40%, algo assim, não? Estava pensando: o dízimo recolhido por certas religiões (centésimo, no caso da igreja católica – ao menos, aqui na roça) é baseado no valor bruto ou líquido? Se for na renda nominal, antes de descontar os impostos, parece-me irregular.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Too funky fer me self

Ontem recebi a seguinte mensagem no celular:

Bomdia meu tigrao.voce.quer.'pao ou .meu.pombao antes do feriado?bejos me lig q.te.pas um numero

Conheço mulheres estranhas, uma ou outra deve ter o meu número. Não me vem à mente, porém, alguma que escreva bobagens de maneira tão funkeira. Prefiro mulheres que escrevam bobagens de forma clara – melhor ainda: artística. Só pode ser alguma pegadinha para clonar celular. (Parece estranho clonar um plano pré-pago, mas enfim... as pessoas fazem coisas incompreensíveis, como assistir Zorra Total.)

E é impressão minha ou "me liga que te passo um número" não faz nenhum sentido? Ou não era isso que estava escrito? Seria esta a última parte da mensagem secreta do Golf e do pão?

sábado, 1 de setembro de 2007

Entusiastas

Dedicado à S!

Se eu pudesse realmente escolher o que quero ser, seria entusiasta. Diferente do expert, que honra o compromisso profissional de saber tudo o que sabe, o entusiasta sabe porque gosta. A simples junção de "compromisso" e "profissional" na mesma sentença deve ser o bastante para convencer alguém de que os dias de um expert são chatos: em vez de trabalhar apenas com sua especialidade, algo que gostaria muito de fazer, precisa distorcê-la e adaptá-la para tornar-se profissionalmente (e, provavelmente, comercialmente) viável. O expert é um vendido.

O entusiasta tem a seu favor a informalidade, mas conservando ainda o respeito das pessoas à sua volta – que é o que importa, afinal: eu não preciso do respeito dos chineses1. Os amadores, por sua vez, até ganham a simpatia de parentes e amigos, mas nem com estes têm credibilidade. Você não chamaria um amador para resolver um problema ou responder uma pergunta complexa. O amador é uma curiosidade.

E temos o profissional regular. Este é o mais desprezível de todos: faz o que faz pelo dinheiro, não há sequer garantias de que goste do que faz. Se o expert é o vendido, o profissional é a versão pirata: funcional, mas duvidoso na melhor das hipóteses. As pessoas só confiam nele porque há algum documento afirmando que é confiável. Você acaba tendo que confiar também em quem fez tal documento, e na forma como foi adquirido. É muita confiança para pouca confiabilidade.

Com tudo isso esclarecido, basta achar um jeito de ganhar dinheiro e permanecer entusiasta.

Exemplos: O Hique é um fotógrafo entusiasta. Eu sou um tipógrafo amador. O Sagaz é um expert em design de jogos. O marketing é uma atividade estritamente profissional2.

1 Por favor, gente, eu amo os chineses! De forma alguma penso mal deles, foram os primeiros que me vieram à cabeça simplesmente porque moram longe. Sério. Poderiam ser os japoneses também, ou qualquer um que você encontre depois de cavar para baixo até o outro lado do globo.

Tudo bem, "amo" foi um exagero.

2 Gostaria de registrar aqui meu testamento informal, apenas por garantia, e deixar tudo para minha irmã. Ah, e eu quero ser cremado, mas não deixem a Cassi tomar parte disso.